Desde criança, acompanhando minha mãe e suas companheiras nas ações sociais voluntárias, constatei e aprendi algumas verdades do mundo social e econômico. Percebi que a população de baixa renda que não conseguia prover a família em suas necessidades vitais era constituída de pessoas doentes ou desempregadas ainda em busca de trabalho. Inicialmente, o grupo assistencialista cuidava de devolver a saúde com assistência médica e alimentar e, em seguida, também auxiliava na tentativa de facilitar o estabelecimento de uma relação trabalhista. Grande parte dos assistidos, com a cura, retomavam suas atividades e o sustento da família. Porém, um pequeno grupo não permanecia no trabalho ou nem mesmo o procurava. Algum tempo depois, ao voltarmos àquela família, a situação havia retomado o quadro inicial de penúria econômica e “doença”. Concluíamos, então, que, na verdade, eles preferiam a miséria ao trabalho, e, como verdade máxima, que o trabalho era o definidor de saúde ou doença; alimentos ou fome na família.
Nos dias atuais, a partir da destruição arrasadora dos bens patrimoniais do país, tendo em vista a voracidade ímpar dos dirigentes que enriquecem na mesma proporção em que lesam, sem nenhuma vergonha, os recursos advindos de impostos arrasadores cada vez em maior número na vida dos brasileiros, outro quadro econômico e social estabeleceu-se: a família tem provedor, mas, mesmo assim, passa fome! Ele é um empregado público, cujo salário não cobre as despesas mínimas familiares e ainda não tem dia certo para recebê-lo. Outra variante acontece e o rendimento desta família pode vir dividido em parcelas durante o(s) mês(es). O articulista Leandro Colon – A culpa é do mingau – escreveu: “O presidente Michel Temer negocia ministérios com partidos aliados enquanto crianças passam fome em uma escola a 11 quilômetros do Palácio do Planalto e do Congresso”. Mesmo aqueles que trabalham em hospitais públicos ligados ao Ensino Superior, que antes tinham permissão para fazer suas refeições no próprio local, tiveram corte desse benefício e assim precisam trazer marmita de casa ou ir em casa para fazer suas refeições... Porém, o dinheiro não cobre as despesas alimentares! Desconcertado e até mesmo envergonhado, este grupo demonstra que o trabalho não é mais o definidor de saúde e alimento na mesa. O que está acontecendo? As pesquisas governamentais demonstram queda na inflação, mas o povo relata que a cada dia seu dinheiro possibilita menos compras de itens básicos. Existe descompasso entre índices de preços e poder de compra! Cada vez mais brasileiros não conseguem levar comida para casa! As pesquisas estão revelando verdades? Se o aumento no consumo provoca inflação, será que a diminuição do consumo pela falta de dinheiro não acabaria por aparecer nas pesquisas como diminuição da inflação? De qualquer forma, o governo está totalmente distante da dura realidade brasileira numa magnífica redoma de ouro.
(*) Psicóloga e psicanalista