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Fascínio amoroso e hipnose

O hipnotizador em sua prática nos remete às imagens de magos, mágicos e feiticeiros, exercendo também uma enorme força de atração.

Ilcéa Borba Marquez
ilcea@terra.com.br
Publicado em 03/08/2018 às 10:18Atualizado em 17/12/2022 às 04:48
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O hipnotizador em sua prática nos remete às imagens de magos, mágicos e feiticeiros, exercendo também uma enorme força de atração. Estar frente a frente compara-se a submeter-se à força magnética que atrai e mantém, da mesma forma que um olhar interessado da pessoa amada captura e direciona o outro. A palavra apropriada é fascínio ou fascinação. O fascínio amoroso e a hipnose representam estados similares. Eles atuam através dos mesmos mecanismos de submissão, de ausência de espírito crítico; “o hipnotizador constitui o único objeto e, assim, não se presta atenção a mais ninguém que não seja ele”. Tanto no fascínio amoroso quanto na sessão hipnótica, o outro tomou o lugar do ideal do ego – aquela imagem inconsciente de perfeição que mobiliza o homem no sentido da autorrealização crescente e idealista. Contudo, uma diferença subsiste entre os dois estados: “A relação hipnótica é a devoção ilimitada de alguém enamorado, mas excluída a satisfação sexual, ao passo que no caso real de estar amando esta espécie de satisfação é apenas temporariamente refreada e permanece em segundo plano, como um possível objeto para alguma ocasião posterior”. É nesse sentido que a relação hipnótica representa uma formação coletiva a dois. Mesmo que Freud afirme ter transposto o enigma das massas para enigma da hipnose, ele continua a identificar o guia da massa ao hipnotizador. Quais seriam as razões que o conduzem a esta perspectiva e qual pode ser sua pertinência?

Para ele, o hipnotizador desempenha o mesmo papel que o chefe primitivo. Ele tem a mesma força que ameaça os que se aproximam. Ele manifesta esta força pelo olhar. Ora, “é justamente a visão do chefe que é perigosa e insuportável para os povos primitivos, tal como, mais tarde, a da Divindade é para os mortais. O próprio Moisés teve de agir como intermediário entre seu povo e Javé, de vez que o povo não poderia suportar a visão divina, e quando retornou da presença de Deus seu rosto resplandecia: um pouco do maná lhe havia sido comunicado, tal como acontece com o intermediário entre os povos primitivos”. Por isso, o hipnotizador provoca no sujeito o mesmo temor reverente que ele tinha pelo pai, considerado como uma personalidade “todo-poderosa e perigosa”, diante da qual “só é possível ter uma atitude passivo-masoquista”. Neste momento, o hipnotizado retorna à sua própria infância, recriando a situação de estar diante da presença grandiosa e ameaçadora do pai, a quem ele só via obliquamente de baixo para cima.

 

(*) Psicóloga e psicanalista

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