Certamente muitos conhecem Maurice Druon, autor francês de grande talento ganhador do prêmio Goncourt com sua obra: As grandes Famílias. Sua escrita me emociona pela leveza que consegue dar a textos reais – pois é, são textos extraídos do viver cotidiano –, por isso mesmo cruéis, com a profundidade de um grande conhecedor da vida intrapsíquica do homem.
Num deles (Encontro no Inferno – o terceiro volume do conjunto “As Grandes Famílias”) descreve o que entende pelas “Estações de Grandes Recepções”: um tempo em que muitas anfitriãs se esmeram no preparo da casa, das pratarias, dos cardápios quase sempre encomendados nas mesmas confeitarias, por isso mesmo iguais, onde alguma força interna vigorosa impele-as a receber convidados e convites indo a reuniões entediantes quase sempre dançando por cortesia com pares indesejáveis ou, não dançando com os desejáveis somente para manter as aparências; contrariando-se quando seu nome não consta da lista de convidados e da mesma forma quando seu nome está na lista o que as obriga a comparecer desmanchando-se em sorrisos para pessoas indiferentes perdendo nestes jogos curiosos, o tempo, as forças e até mesmo a fortuna. A força vigorosa responsável por tudo era a troca do poder e da celebridade. Neste ponto Maurice Druon revela o âmago das suas conclusões: “o sucesso e o poder não são coisas que se vendem como se acredita muito geralmente; são sim, coisas que se trocam.”
Para ele a base do sucesso e do poder está na capacidade de cada um de organizar e sustentar uma rede que ele diz se assemelhar a uma teia de aranhas humanas em que cada um deve deixar com que suas patas se enredem nas teias dos outros, a fim de que possa fabricar sua própria teia.
Esta clareza com que apresenta as linhas que se cruzam e se entrecruzam até formar um tecido furado, mal estruturado ou algo mais firme e flexível onde ainda poderá surgir algo que simbolize o momento é maravilhoso.
Seguindo ainda esta leitura do social ele adverte os jovens que estão buscando o amor na crença de que através do sucesso e do poder seu objetivo será alcançado e, afirma com convicção, que o sucesso e o poder não possibilitam em definitivo o direito ao amor porque eles são ao fim o próprio substituto do amor. Ou seja, a paixão com que se dedicam à conquista do sucesso e do poder se torna a própria experiência amorosa já que estão nela “atolados até o pescoço”.
(*) psicóloga e psicanalista