Li recentemente (G – 17/04/23 Caderno Economia) um artigo sobre a atualidade violenta da vida urbana e suas causas e, para minha surpresa, foram abordados apenas a facilidade na aquisição e o uso de armas – revólver, fuzis e similares – como causa e consequência dessa “Guerra Urbana”.
Vale a pena lembrar que o fato recente de violência numa creche em Blumenau, onde perderam a vida quatro crianças e quatro foram feridas, inclusive no rosto, as armas utilizadas foram machadinha e canivete – armas brancas de fácil acesso e aquisição para uso doméstico até mesmo na cozinha de todas as casas.
O artigo acima citado explica essa agressividade aos frágeis como consequência da descida dos morros – centro do tráfico de entorpecentes no Rio de Janeiro – dos operadores desse sistema para a região urbana, munidos de seus instrumentos de trabalho para a prática de delitos aos citadinos, completamente despreparados para se posicionarem adequadamente neste conflito, que reconhecemos como Guerra Urbana. O uso de armas de fogo não explica a onda de violência com Armas Brancas e, além do mais, verificamos uma atitude belicosa atual de um povo antes reconhecido até mesmo mundialmente como “Homem Cordial”. A cortesia, o bom humor, a musicalidade, as rodas de samba e o samba no pé desapareceram na urbe. Encontramos em contrapartida a busca frenética de uma musculatura em imagem de força agressiva inquestionável. O que foi feito do antigo “Homem Cordial”? Esses brutamontes é o seu sucessor?
Procurando causas sociopsicológicas, encontramos nessas mudanças o fruto de um ódio estabelecido numa sociedade dicotômica polarizada conflitivamente entre Bom X Mau; Eu X o Outro; Certo X Errado. Até quando manteremos essa atitude negacionista de uma doença cultural em que crianças, professoras e creches são violentamente agredidos sem oferecer resistência nenhuma!
Parece que o homem atual se tornou um desprezível animal predador, que mata o fraco sem nenhuma necessidade física, mas sim por Desejo de Poder. Assim, quanto mais frágil e desamparado, melhor. O agressor fica totalmente seguro da não reação perigosa do menor, mais fraco e despreparado, surpreendido pela atitude inusitada de agressão mortífera. Se observarmos, o atrativo de uma cena violenta! Nossa cultura atual tem a violência como espetáculo, siderando o olhar de todos, fascinando e horrorizando. Entretanto, o ser humano busca não a violência, mas o prazer, ou seja, sentimento que o afasta da tensão e da dor.
Ilcea Borba Marquez
Psicóloga e psicanalista
e-mail: ilceaborba@gmail.com