ARTICULISTAS

Identidade feminina

Em termos funcionais o silêncio é significativo de normalidade

Ilcéa Borba Marquez
ilcea@terra.com.br
Publicado em 07/03/2012 às 20:06Atualizado em 17/12/2022 às 08:45
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Em termos funcionais o silêncio é significativo de normalidade. Assim, quando os órgãos chamam nossa atenção, é porque algo não vai bem. A manifestação dos mesmos se dá pela dor e, quando um órgão comete a indiscrição de se manifestar, abre-se o espaço para um ato médico. A mulher rompeu seu silêncio secular. Nunca se falou tanto sobre ela em todos os campos do interesse social. Fala-se sobre a sexualidade feminina, sobre seus papéis representativos na sociedade, tais como a maternidade, as profissões, o poder e a política. Também neste caso foi a dor do não ser ou a dor da submissão humilhante que ocasionou um ato, neste caso um ato de modificação social.

Na vida feminina, a beleza tem uma função proeminente. A preocupação com uma beleza imaculada nunca abandona a mulher, qualquer mulher. Embora querer agradar a um outro ou aos outros – qualquer que seja o sexo daquele a quem se quer agradar – faça quase parte da civilidade pueril e honesta, todos sabem também que essa marca de estima para com o meio não exige a perfeição, pela única razão de que tal perfeição é inacessível, pois está ligada ao julgamento do outro. Todos, menos a mulher, para quem parece existir a esperança de atingir uma perfeição tal que o outro ficará estupefato, esmagado, curvado, anulado, reduzido ao papel de espelho plano e silencioso. Todas as demonstrações de admiração por parte do espectador são apenas confirmações, reflexos de uma aprovação dada por si mesma. No entanto, a mulher não é no que diz respeito a si própria um juiz indulgente, e essa beleza ideal, essa perfeição tão arduamente buscada, nunca serão reconhecidas por ela.

Uma perfeição inatingível, um ideal irrealizável, nada será capaz de embelezar uma mulher, nada será capaz de esconder de si e para si as lacunas, as falhas que a exporiam ao riso e ao desprezo que ela sente por si. Portanto, a procura de uma perfeição é a tradução de uma convicção de sua imperfeição. Todas as roupas, todos os enfeites se tornam máscaras e camuflagens, condicionamentos destinados a tornar sedutora aquela que não acredita na sua atratividade.

O que é verdadeiro para a roupa e para a maquilagem também o é para a cultura e o espírito. Ela nunca se achará suficientemente inteligente, suficientemente provida de conhecimentos. Essa dor pela beleza perfeita não alcançada ou pela detenção do mais pleno saber cultural não conquistado coloca a mulher num movimento frenético de busca, de ensaios, de seguir em frente a ponto de acabar por se tornar sujeito da maior mudança de status social acontecida até agora.

(*) Psicóloga e psicanalista ilceaborba@netsite.com.br

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