O desejo de amparo que luta constantemente contra a penosa sensação de desamparo...
O desejo de amparo que luta constantemente contra a penosa sensação de desamparo, experimentada pelo homem desde o princípio da vida, retorna como fantasia de “estar protegido” de tempos em tempos pelo social numa experiência que nominamos de ilusão social. Esta foi a sensação vivenciada pelos berlinenses quando da ascensão do nazismo na Alemanha de 1933. Pelo imaginário popular o povo alemão iniciaria uma época de felicidade estável e duradoura a cargo dos novos líderes! Vale a pena lembrar que esta ilusão antecedeu ao caos da II Guerra Mundial responsável pela devastação da Europa e pela perda de toda uma geração de jovens talentos exterminados pelas bombas, balas, gases, tanques, minas, foguetes e tantos outros instrumentos de destruição em massa criados para a conquista de terras e riquezas!
O Brasil também foi palco de experiência similar com a chegada ao poder do “Partido dos Trabalhadores” em 2003 quando representava esperança de redenção e brasilidade a todos e em especial aos que até então se mantinham de fora do palco central da história brasileira.
Marco Antonio Villa – (Década Perdida - Dez anos de PT no poder) - escreve sobre esta nova era nacional iniciando o texto no dia 1º de janeiro de 2003 com a posse do novo presidente da República, José Inácio Lula da Silva, detalhada minuciosamente. Desde a reação ufanista da plateia presente neste dia: chefes de Estado como Fidel Castro e Hugo Chaves, deputados, senadores, ministros e altas autoridades da República que interromperam a fala presidencial por trinta vezes com a força das palmas ao ouvir um discurso centralizado na história pessoal do novo líder - retirante nordestino, menino que vendia laranja e amendoim no cais de Santos, torneiro mecânico, líder sindical, fundador do Partido dos Trabalhadores e, finalmente Presidente da República do Brasil.
Passando pela fala presidencial onde Lula promete: “Estamos começando hoje um novo capítulo na História do Brasil, não como nação submissa, abrindo mão da sua soberania, não como nação injusta, assistindo passivamente ao sofrimento dos mais pobres, mas como nação altiva, nobre, afirmando-se corajosamente no mundo como nação de todos, sem distinção de classe, etnia, sexo e crença.” Ele não se esqueceu de referir-se a uma nova era também na política externa orientada “por uma perspectiva humanista” nem tão pouco da reforma agrária que seria feita “não apenas por uma questão de justiça social, mas para que os campos do Brasil produzam mais e tragam mais alimentos para a mesa de todos nós”. Precisamos salientar estas suas palavras conclusivas: “ser honesto é mais do que apenas não roubar. É também aplicar com eficiência e transparência, sem desperdício, os recursos públicos”.
(*) Psicóloga e psicanalista ilceaborba@gmail.com