“Rainhas Malditas”, de Cristina Morató, um livro em alta, esgotado em muitas livrarias, e para comprá-lo tive que recorrer às produções indianas, pagando um preço bem alto. Enquanto aguardo sua chegada, consultei os vídeos e comentários disponíveis pela internet, conseguindo informações valiosas.
Uma pergunta que não quer calar: Por que “Rainhas Malditas”? Acredito que podemos abandonar a ideia negativa que sustenta a interrogação através dos sinônimos possíveis para maldita: atroz, amaldiçoada, destino cruel, agourento, catastrófico, desastroso, desaventurado, infortunado, trágico e fatídico que acredito coadunam melhor com as biografias que compõem a obra.
Gostaria de convidá-los a um retorno aos anos 60 quando do lançamento da tríade de filmes sobre a Imperatriz: “Sissi”, “Sissi a Imperatriz”, “Sissi e seu destino”; três obras românticas, idealizadas, sob a direção de Ernst Marischka, também responsável pelo roteiro, cuja finalidade era divulgar e atrair turistas para o leste europeu, mostrando a beleza natural alpina da Áustria, Alemanha, Hungria, Bavária, dentre outras, sob um império cristão e seus valores/condutas em voga no século passado. Obras inesquecíveis para todos que puderam assistir extasiados ao desenrolar da trama. Para manter seus objetivos, muitos dados foram subtraídos e muitas verdades ocultadas, porém agora são reveladas no citado livro.
A cultura vienense então retratada nos filmes priorizava a aparência, e não o ser através da teatralização ritualística de uma corte rígida determinando o dia a dia palaciano nos mínimos detalhes, impedindo sobremaneira o livre arbítrio e a liberdade individual sobre uma jovem de 16 anos, apaixonada pelos campos e animais, deleitando-se em cavalgar livremente, contemplando os Andes em suas paisagens deslumbrantes.
São incontestes sua beleza e presença, que capturaram os vienenses e todos que a conheciam. Em contrapartida, foi desafiada a manutenção de tudo que possibilitava seu poder atrativo e conquistas fáceis. Ao longo dos anos, tornou-se anoréxica e bulímica, aficionada aos exercícios físicos, com forte tendência à tristeza e apatia. Tinha grandes dificuldades para cumprir seus compromissos cortesões, preferindo o isolamento nos seus aposentos, a leitura dos autores preferidos e a contemplação da natureza. Pesava 46 quilos, sua cintura não passou dos 50 centímetros e sua alimentação se restringia a períodos de apenas seis copos de leite. Era tabagista e na sua caixa de primeiros socorros continha frasco de morfina, cataplasma e uma seringa para cocaína. Desde a morte de seu filho e do primo Luis II da Baviera, buscava comunicação espiritual, tornando-se patética e desconfiada, não acreditando no amor das pessoas e, apenas, desejando juntar-se a eles.
Ilcea Borba Marquez
Psicóloga e psicanalista
E-mail: ilceaborba@gmail.com