ARTICULISTAS

Inclusão – a ordem do dia

Não precisamos recorrer ao marxismo

Ilcéa Borba Marquez
ilcea@terra.com.br
Publicado em 03/04/2013 às 19:59Atualizado em 19/12/2022 às 13:52
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Não precisamos recorrer ao marxismo para evidenciar que os seres humanos apresentam aspectos que se assemelham e outros que diferenciam, assim podemos dizer sem medo de errar: os homens são iguais a todos os outros homens; os homens são iguais a alguns dos outros homens; os homens são diferentes de todos os outros homens. A tônica nas diferenças provoca a guerra; a tônica na igualdade possibilita a inclusão. Esta abrange não só as classes sociais e os gêneros, mas também aqueles que estavam à margem pela desigualdade no ritmo de aprendizagem ou na aquisição de hábitos, formas de comunicação e sociabilidade.

As crianças portadoras da Síndrome de Down permaneceram durante um tempo em espaços próprios nos grupos de iguais responsáveis pelo sentimento de identidade e pertença.  Agora estão prontos para um novo passo – reproduzir o mesmo sentimento de identidade e pertença a partir de suas características humanas – aquelas que todo homem possui.

Mas, não são apenas estes que tiram proveito desta expansão inclusiva, todos se beneficiam porque aprendem a lidar com as diferenças superando os limites de uma extensão perigosa do próprio Eu, afinal a vida é uma constante pulsação na qual ocorrem expansões e retrações, sístoles e diástoles, que são, portanto, oscilações de intensidades que, com o decorrer do tempo vão produzindo novos contornos. E, assim o perigo do desenvolvimento de personalidades narcísicas tão em voga, aquelas que só almejam viver em torno de seu cordão umbilical desaparecem, ensejando a generosidade e a solidariedade.

Estando disponível para as questões que um portador desta síndrome desperta, ouvi o seguinte: como e quando devo introduzir uma criança no grupo de outras que não apresentam a mesma característica?  Notamos desde já uma separação excludente – os outros e ele que insistimos em combater. Esta criança precisa estar sempre e desde já com seus companheiros, nas situações de jogos e brincadeiras  naturalmente supervisionadas pelos adultos, porque afinal todos se assemelham na característica humana. No campo do vivente surgem questões das contradições e dos paradoxos, que não podem ser resolvidas. Podemos no máximo transitar por elas, transformá-las e desdobrá-las. Se aquele se apresenta como diferente de mim, onde não me vejo e nem me reconheço surge diante de mim como oportunidade de saber de tudo que desconheço sobre mim em sua insistência de se fazer notar como existente.

(*) Psicóloga e psicanalista

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