Sob a denominação instinto colocamos todas as respostas não aprendidas, todos os comportamentos ligados aos seus estímulos específicos. Isto subentende que no campo instintivo não existe a intermediação do Eu entre um estímulo e sua resposta: se uma luz forte incide sobre os olhos, imediatamente há uma diminuição da pupila num processo claramente adaptativo. O conhecimento do fato de que a pulsão agressiva é um instinto verdadeiro que visa, primariamente, à preservação da espécie, nos tona capazes de reconhecer seu perig é a espontaneidade do instinto que o torna tão perigoso. Em outras palavras: como a resposta instintiva não se submeteria à intermediação do Eu, ela estaria fora do controle egoico e dos mecanismos defensivos, fora também do processo de aprendizagem.
No entanto, verificamos facilmente que o aculturamento produziu modificações nas respostas instintivas agressivas do homem desde o início. Assim os primeiros inventores de ferramentas de pedras rapidamente usaram sua arma para matar não somente a caça, mas também membros de sua espécie. O homem de Pequim – que aprendeu a preservar o fogo, também o utilizou para assar seu irmão. Da mesma forma aquele que matou seu irmão com a ferramenta de pedra ficou profundamente preocupado com as consequências de sua ação, vivenciando o que hoje conhecemos sob o nome de sentimento de culpa.
O aspecto inovador do texto de Kemper quando retoma Lorenz é que uma ligação pessoal é encontrada somente em animais com agressão intraespecífica (entre membros da mesma espécie), e esta ligação é tanto mais firme quanto mais agressivos forem o animal e a espécie. Assim a conclusão de que a agressão intraespecífica é milhares de anos mais antiga do que a amizade pessoal e que durante longos períodos da história da terra existiram apenas animais que eram extraordinariamente agressivos leva-nos a um surpreendente desfech podemos dizer que a agressão intraespecífica certamente pode existir sem o amor, mas, inversamente, não há amor sem agressão.
A agressão mais e mais se separa e não se confunde com impulsos puramente libidinosos e pode vir a ser um perigo que ameace a existência do ser humano em agrupamentos, clãs, instituições ou países, quando não bem conduzida desde seus primeiros objetos, nas relações familiares.
(*) Psicóloga e psicanalista