Os jornais de hoje trazem a notícia de um trágico aconteciment aos 63 anos, o ator Robin Williams é encontrado morto em sua casa, vítima de asfixia e, supostamente, suicídio. Em seguida uma colega levanta questão e faz uma proposta: por que você não escreve sobre depressão? A morte do humorista Robin Williams é uma ótima oportunidade para focarmos o tema da depressão que a maioria continua tentando negar sua existência e obscurecer sua importância atual na vida do homem e nos fatos que se sucedem em cadeia, construindo ao final história cultural.
Ao me concentrar sobre o tema, lembrei-me de outra tragédia que ocupou os noticiários franceses nos anos 80 envolvendo renomado Professor de Filosofia da Escola Normal Superior em Paris - Louis Althusser -, que em 16/11/1980 estrangulou sua dedicada esposa Helena dentro de seu apartamento. Retomando suas próprias palavras, lemos: “Escrevo este livro em outubro de 1982, ao sair de uma atroz provação de três anos, cuja história, quem sabe, um dia talvez contarei, se por acaso ela puder esclarecer outras de suas circunstâncias, bem como do que sofri (a psiquiatria etc.). Pois estrangulei minha esposa, que era tudo no mundo para mim, durante uma crise intensa e imprevisível de confusão mental em novembro de 1980. Ela que me amava a ponto de querer apenas morrer se não pudesse viver, e certamente eu, em minha confusão e meu inconsciente, ‘prestei-lhe este serviço’ do qual ela não se defendeu, mas em virtude do qual morreu”.
Após o crime, Louis Althusser foi, inicialmente, internado no hospital Sainte-Anne até junho de 1981, data em que foi transferido para Soisy, onde permaneceu até julho de 1983. No início desse ano conseguiu passar algumas semanas em seu apartamento no XX° Arrondissement, para onde seus amigos haviam transferido todas as suas coisas da Escola Normal Superior. Assistido dia e noite por eles, sob a ordem imperativa de seu médico, dá-se conta de que o espaço do hospital é, para ele, um refúgio quase absoluto contra as angústias do mundo externo. A impressão de estar abandonado lançou-o em extrema depressão que tornou necessária uma segunda hospitalização até 1983, quando conseguiu a concordância do seu médico de receber alta. A saída do hospital significava estar em constante situação de vigilância por parte dos amigos que mantinham plantão à sua volta, dia e noite. Em junho de 1985, após uma crise profunda é novamente internado em Soisy.
A morte de Robin Williams continua enigmática e sem muitas informações esclarecedoras, mas durante entrevista revelou ser “desesperado pela atenção e pelo amor dos desconhecidos...”. Em ambas situações aparecem o fantasma do abandono e as medidas defensivas adotadas para negá-lo. Em suas próprias palavras ao relembrar sua primeira relação sexual com Helena aos 30 anos de idade: “Nunca tinha beijado uma mulher... e nunca tinha sido beijado por uma mulher... era algo novo, surpreendente, exaltante e violento. Quando ela foi embora, abriu-se um abismo de angústia que não mais se fechou”.
(*) Psicóloga e psicanalista ilceaborba@netsite.com.br