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Já estamos no décimo Big Brother

Socialmente o homem tem duas formas de estar no mundo: a primeira é pertencendo a pequenos grupos que dividem instituições como fábricas

Ilcéa Borba Marquez
ilcea@terra.com.br
Publicado em 24/03/2010 às 20:11Atualizado em 20/12/2022 às 07:28
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Socialmente o homem tem duas formas de estar no mund a primeira é pertencendo a pequenos grupos que dividem instituições como fábricas, igrejas, hospitais ou demais locais de trabalho onde permanece por um tempo determinado para o desenvolvimento das atividades inerentes aos mesmos e em seguida, de acordo com sua livre escolha, passa para o campo da sua vida privada; a segunda é pertencendo a uma instituição total que pode ser definida da seguinte forma – local de residência e trabalho onde um grande número de indivíduos com situação semelhante, separados da sociedade mais ampla por considerável período de tempo, levam uma vida fechada e formalmente administrada. Para exemplificar citamos as prisões, os conventos, os orfanatos, os asilos, os hospitais para doentes mentais, ou ainda os internatos de uma forma geral. Estas instituições, que Goffman nominou como instituições totais, têm características de fechamento pela barreira que colocam ao contato espontâneo e livre com o social, às vezes incluído no próprio espaço físico – portas fechadas, paredes altas, arame farpado, fossos, água, florestas ou pântanos.

Nossa sociedade moderna abre várias possibilidades para o homem quanto a locais para o desenvolvimento de atividades também diversas. Assim o homem tende a dormir, brincar e trabalhar, em termos gerais, em diferentes lugares, com diferentes co-participantes, sob diferentes autoridades e sem um plano racional direto. Sob este aspecto as instituições totais restringem as três esferas da vida para um mesmo local e sob uma única autoridade. Há a formação de dois sub-grupos: os internos e os dirigentes que se distinguem pela possibilidade ou não de contatos livres com o mundo externo. Cada agrupamento tende a conceber o outro através de estereótipos limitados e hostis – a equipe dirigente muitas vezes vê os internados como amargos, reservados e não merecedores de confiança; os internados muitas vezes veem os dirigentes como condescendentes, arbitrários e mesquinhos. Além disso, uma outra diferenciação pode também estabelecer: os dirigentes tendem a sentir-se superiores e corretos; os internos sob alguns aspectos a sentir-se inferiores, fracos, censuráveis e culpados.

Existe também uma restrição de informações, sobretudo referente ao destino dos internos. Geralmente, estes não têm conhecimento das decisões quanto ao seu futuro, o que ocasiona uma base de distância e controle do grupo dos dirigentes sobre o grupo dos internos.

Estas instituições são interessantes sociologicamente, porque são estufas para mudar pessoas; cada uma é um experimento natural sobre o que se pode fazer ao eu. (Continua.)

(*) psicóloga e psicanalista

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