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Laboratório passional

Algumas formas de falar a paixão esclarecem sua essência e causa.

Ilcéa Borba Marquez
ilcea@terra.com.br
Publicado em 03/08/2018 às 10:18Atualizado em 17/12/2022 às 03:54
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 Algumas formas de falar a paixão esclarecem sua essência e causa. O apaixonado refere-se ao seu objeto de paixão como "meu bem", popularmente nos referimos ao apaixonado como aquele que se alimenta de "amor e água fresca"! Quando nos referimos ao outro como "meu bem" mostramos que se trata de algo valoroso e que é meu, me pertence, ou seja, sou eu mesma. A dificuldade na alimentação, tão comum na vivência apaixonada, aproxima-a muito do estado anoréxico tanto estrutural quanto de ligações.

Atentando para o significado do us "meu bem" percebemos que, ao falar de paixão, Freud retoma o início da vida psíquica e seus processos, ele observa o ressurgimento de um estado anterior onde, devido às condições iniciais do aparelho psíquico, o bebe confunde num só todo ele e aquele que cuida dele experimentando nesta fusão o sentimento amoroso; assim amando a alguém ele estaria apenas amando a si mesmo % o amor por si mesmo se funde com seu amor por aquele que cuida de sua existência. Depois os futuros relacionamentos que envolverem paixão se pautarão nesta primitiva experiência psíquica e o apaixonado, tomado de paixão, tenta se precaver de um abandono que, já tendo ocorrido inscreveu-se nele como desfecho inevitável do amor porque a realidade de serem dois – mãe e bebe separados – se impõe.

A experiência apaixonada remete a uma mutilação anterior vivida – perda do complemento materno imaginado – determinando de antemão o resultado deste atual movimento amoroso. O que nos leva a refletir que depois de passados os tempos da elação apaixonada com sua característica única e fundamental de uma verdadeira intoxicação de sentimentos e valorização paroxística objetal, surgirá, inevitavelmente, o amargor, o desespero e o desamparo, frequentemente ligados aos desejos de vingança e de ódio. Em alguns casos, num ato posterior que, no entanto pretende atingir um acontecimento anterior, o apaixonado faz um ajuste de contas ou violência sacrificial que pode até mesmo ser mortífera; dessa forma a atualidade da violência é uma atitude reacional à mutilação experimentada no princípio da organização psíquica e, se o objeto agredido pertence ao tempo de agora na verdade se dirige ao tempo passado, mais precisamente ao complemento materno imaginado e perdido para sempre.

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