Um documentário sobre o rio Amazonas e sua população ribeirinha mostrou, mesmo que brevemente, a vida nas pequenas comunidades
Um documentário sobre o rio Amazonas e sua população ribeirinha mostrou, mesmo que brevemente, a vida nas pequenas comunidades: suas relações com o rio, fator de sobrevivência e comunicação; a família, o comércio, as perspectivas sociais e econômicas, o sentido de ser e viver. O comentarista ressaltou que em referência à educação infantil o relacionamento dos pais com os filhos é amoroso, sem castigos corporais, onde os conflitos entre gerações se encontram ausentes. Em comparação com os problemas que enfrentam os pais e filhos neste nosso momento cultural, não podemos deixar de perguntar a causa de tanta diferença.
No século das luzes havia uma expectativa enorme de todos sobre os benefícios que a ciência traria aos homens não só pelas perspectivas de melhora nas condições de saúde, o que traria uma expectativa de vida maior e melhor; de estruturação social com o aumento da capacidade produtiva, alimentar e de trabalho; de redução dos conflitos seculares entre gerações e populações pela posse de terras e bens.
Nosso século é o da inquietude e das desilusões em relação ao progresso. A ciência trouxe benefícios: o homem vive mais, alimenta-se melhor, tem controle medicinal sobre antigos temores de fatalidades, alcança níveis cada vez maiores de desempenho físico e intelectual, é capaz de compreender muito mais seu ambiente do qual retira, cada vez mais, os elementos necessários à sua sobrevivência e de seus semelhantes... Mas, a violência explode em cada esquina, revela uma fúria incontrolável entre pais e filhos; expõe o lado vil dos fortes na destruição lenta ou fulminante dos fracos em razão do desejo de dominar e submeter o outro, ou, até mesmo o mundo.
Entre os gentios a vida transcorre ritualisticamente assegurando a todos em cada tempo ou etapa da vida um papel social e um lugar familiar. Acompanhado as entrevistas observamos pessoas idosas – 80 e 90 anos – sem aposentadoria e responsáveis por certas tarefas no lar. As crianças parecem livres e o aprendizado se realiza junto às outras mais velhas, num verdadeiro brincar e aprender.
Vivemos uma evolução política sem precedentes e um esforço pedagógico constante, no entanto, só conseguimos produzir uma sociedade sujeita a convulsões e tentada ao apocalipse. Mesmo assim continuamos acreditando na aplicabilidade da ciência, no valor da educação, na utilidade do crescimento econômico e numa saída em relação direta à criação de uma sociedade de autogestão onde os homens acederiam à sua autonomia e realizariam sua essência.
(*) psicóloga e psicanalista