ARTICULISTAS

Livre para matar e violentar

É fácil identificar-se com a família dos jovens violentados e mortos pelo pedreiro de Luziânia, solto por “bom comportamento” de acordo com uma jurisprudência parcial

Ilcéa Borba Marquez
ilcea@terra.com.br
Publicado em 21/04/2010 às 20:53Atualizado em 20/12/2022 às 06:57
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É fácil identificar-se com a família dos jovens violentados e mortos pelo pedreiro de Luziânia, solto por “bom comportamento” de acordo com uma jurisprudência parcial, plena de omissões. Um homicida estrupador tem que ser conhecido e atendido em todas as suas necessidades singulares de punição e possibilidades recuperativas. Sua morte prematura, antes mesmo do julgamento, livrou-o de todas as etapas de um processo penal, tais como as acusações sociais levantadas pelos promotores, os depoimentos emocionados e até mesmo raivosos das testemunhas, as tentativas de defesa, e a sentença final dada pelo juiz em nome de toda uma sociedade que repudia crimes de violência sexual cometidos com jovens imaturos, fragilizados pelas situações cruéis antecipadamente planejadas e executas pelo agressor, que se sustenta numa superioridade e força de toda encenação e artimanhas cometidas. As famílias enlutadas vivem uma emoção de perda, acrescentada pela desagradável sensação de impotência que a ausência do julgamento social ocasionou.

Quem é este que pratica atos tão cruéis, repetidamente, e em tão pouco espaço de tempo?

Tal como foi altamente divulgado pela imprensa trata-se de pessoa com características próprias e especiais que representam perigo social pela grande probabilidade de ações cruéis e assustadoras. Em sua história pessoal encontramos vivencias relacionais que o afetaram profundamente, deixando marcas que se tornaram probabilidades de atos violentos. Além disso, há um déficit estrutural que se revela pela forma com que lida com as leis que representam limites. Mesmo tendo consciência de que a vida em sociedade implica na observância de proibições/permissões de atos que finalizam em sanções caso sejam desrespeitados, desenvolve uma atitude particular: eu sei que existe uma lei que deve ser respeitada, mas, ela é a minha lei – ou seja, o que eu desejo! Essa atitude própria frente às regulamentações sociais nasceu da falta de imposição ou obediência aos nãos recebidos durante todo o processo educativo na família, na escola, nos grupos que frequentou. Mais uma vez voltamos à ausência de limites durante o processo formador do homem e suas graves consequências; bem como a aplicação generalizada da lei sem atenção aos individualismos que tornam singular qualquer homem e qualquer delito e, ainda a necessidade imperiosa de reformas no sistema de punições.

(*) psicóloga e psicanalista

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