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Mãe, todo mundo tem

Estas palavras justificam a retirada, agora oficial, do nome do pai como fator identificatório dos indivíduos. Antes, a necessidade de nominar o pai obrigava uma declaração como essa

Ilcéa Borba Marquez
ilcea@terra.com.br
Publicado em 14/10/2009 às 21:03Atualizado em 20/12/2022 às 10:06
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Estas palavras justificam a retirada, agora oficial, do nome do pai como fator identificatório dos indivíduos. Antes, a necessidade de nominar o pai obrigava uma declaração como essa: “pai desconhecido” ou, no melhor dos casos, um espaço em branco onde deveria constar o nome do pai. Agora, os documentos oficiais pedem apenas o nome da mãe. É inegavelmente uma mudança cultural e, certamente, prenhe de significados tanto para os indivíduos desta sociedade quanto para o próprio grupo social. Seria um retrocesso a uma época de priorização dos sentidos ou percepção concreta? Seria, talvez, o início de uma nova era mais individualista? Ou ainda uma prova dos novos tempos pós-modernidade, onde se vê a efetivação “tempo dos irmãos” ou “tempo do fraterno”, ou “tempo da fratria”?

É inegável que a família atual não se traduz como um grupo dicotômico, onde se evidenciam, claramente, papéis e perfis sociais diferentes; ou seja: pessoas com status social diferenciado – pais, mães e filhos – que se comportam e estabelecem relações de poder e submissão distintos e distinguíveis. Se observarmos o dia-a-dia familiar, veremos uma massa amorfa e fusionada de pais e filhos que não se distinguem pela aparência e tampouco pelos comportamentos, metas e ideais em longo ou curto prazo. Todos, sem exceção, sonham com a juventude, lutam por mantê-la a qualquer custo e acreditam que conseguem este feito!

Ilusões à parte, uma diferença entre pais e filhos só se observa quando o desejo é uma garantia de poder por parte dos pais, que procuram submeter os filhos na base d você sabe com quem está falando? Nesta casa quem manda sou eu! Fora isso, escutamos conselhos maduros dados pelos filhos aos seus pais e até mesmo repreensões plenas de sentido! Agora, são as filhas que prestam socorro recorrente às mães que se excedem na bebida, nas noites de frustradas tentativas para o encontro amoroso. É claro que não estamos aqui falando de exceções, mas sim dos comportamentos repetitivos e habituais de pais e filhos; tampouco que os filhos não podem ter atitudes adultas diante dos pais infantilizados!

Dois exemplos opostos podem esclarecer melhor o exposto acima: na semana passada, uma revista divulgou uma foto da nossa conhecida cantora Elza Soares (72 anos) abraçada ao seu jovem namorado/agente, travestida de uma jovem símbolo sexual; enquanto outra cantora, Edith Piaff, casou-se com um jovem - Theo Sarapó - aos 47 anos, sem, no entanto, sentir necessidade de mudar nenhum item da sua imagem envelhecida. (Continua.)

(*) psicóloga e psicanalista

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