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Mãe todo mundo tem (continuação)

Retomando a primeira questão: Seria um retrocesso a uma época de priorização dos sentidos ou percepção concreta? Dizemos que a maternidade, por acontecer no próprio corpo feminino

Ilcéa Borba Marquez
ilcea@terra.com.br
Publicado em 21/10/2009 às 20:39Atualizado em 20/12/2022 às 09:57
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Retomando a primeira questã Seria um retrocesso a uma época de priorização dos sentidos ou percepção concreta? Dizemos que a maternidade, por acontecer no próprio corpo feminino, podendo ser vista, tocada e sentida, pertence ao mundo dos sentidos, enquanto a paternidade estaria sujeita à linguagem, à possibilidade de uma comunicação verbal entre a mãe e o pai. O reconhecimento da paternidade depende do enunciado – precisa ser dita e por isso pertence ao campo do simbólico. A resposta, então, só poderia ser assim: num tempo virtual onde a noção de espaço e tempo sofre modificações espantosas, fruto da comunicação internauta, não se admite um retrocesso ao tempo do sensível.

As duas outras questões podem se fundir: seria esta uma época de priorização do individual e do indivíduo ou, ainda, das relações horizontais, e não verticais? A velocidade vertiginosa do aqui e agora em constante rotatividade, que caracteriza os dias atuais, aponta para a pessoa transitória em detrimento da estabilidade familiar, da mesma forma que se apagam as desigualdades entre gerações em prol de uma homogeneização sensível dos grupos humanos. Uma confirmação das questões acima levantadas leva-nos a um novo entendimento da contemporaneidade.

A organização familiar mudou para relações que acontecem na horizontalidade, o que enfatiza a igualdade – o poder se divide e se expande entre todos os membros que a compõem, sem diferenciação de categoria ou papel social – já se torna difícil perceber o exercício no espaço intrafamiliar das funções de pais, mães e filhos, assim alguns autores reconhecem uma fratria: uma irmandade fraterna, sem classificações entre seus membros, que divide o poder e poderia ser reconhecida como autogestora. Nesta abordagem, os conflitos seriam vividos entre “irmãos” e haveria um silenciamento dos embates entre gerações.

Em termos psicanalíticos, estaríamos observando um retrocesso de uma sociedade antes edipiana para uma fraterna. Na primeira, o conflito rivalitário obedeceria a relações triangulares, tendo o pai, a mãe e o filho em cada vértice, e a angústia estaria referida ao medo de perder algo que se acreditou ter. Na segunda, o conflito seria pré-edípico, referindo-se a apenas dois lados, e o medo seria o de se perder ou se esfacelar. Nota-se, imediatamente, que o perigo e a dor atuais são maiores – os riscos do viver, superiores, porque um se refere a uma parte e o outro ao todo.

(*) psicóloga e psicanalista

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