A partir de um texto de Winnicott (1957) pude analisar fenômenos de difícil explicação que se mostram presentes tanto ontem quanto hoje, tais como a violência contra a mulher
A partir de um texto de Winnicott (1957) pude analisar fenômenos de difícil explicação que se mostram presentes tanto ontem quanto hoje, tais como a violência contra a mulher tanto social quanto sexual, numa frequência que exige esclarecimento : “Muitos estudiosos da história social pensaram que o medo de MULHER é uma causa poderosa do comportamento aparentemente ilógico dos seres humanos em grupo, mas esse medo raramente tem suas raízes desvendadas. Desvendado na raiz de cada história individual, o medo de MULHER se transforma em medo de reconhecer a dependência.”
A compreensão desta afirmativa inicia-se pela decifração da expressã medo de mulher. Não se trata, então, de medo de uma determinada mulher: a mãe, a professora, a esposa, ... ou seja, qualquer uma que mantenha com o sujeito algum tipo de relação; mas sim de uma mulher indeterminada, de qualquer mulher, até mesmo de uma desconhecida. Estar diante de uma mulher provoca, na situação analisada, o sentimento de medo.
Em seguida Winnicott aponta este medo de mulher como determinante de ações estranhas, sem lógica racional, para grupos de seres humanos: é difícil explicar o estranho lugar social destinado às mulheres por tanto tempo!
Finalmente ele apresenta a causa do medo e das ações sem sentid medo de reconhecer a dependência (dependência própria e de cada um frente à mulher). Continuando com Winnicott, ele nos esclarece que as mulheres, pela maternidade estariam “livres” do incômodo sentimento de gratidão, uma vez que se dedicam devotamente ao seu bebê nos primeiros anos da vida. Vale lembrar que a dívida da vida é uma das protofantasias carregadas de culpa que os homens trazem consigo, desde o princípio de suas vidas psíquicas, e, dessa forma ele também explica porque os atos estranhos são cometidos por grupos de homens.
O ser humano, por sua imaturidade ao nascer, tem a conservação ou não de sua vida totalmente nas mãos de uma mulher. Com isso nos lembramos de cenas como do bebê abandonado numa sacola de plástico preta na Lagoa da Pampulha, ou ainda o bebê assassinado pela sua mãe por asfixia, ou aquele abandonado no Coletor de Lixo Hospitalar. Por outro lado lembramo-nos também daquela mulher, que mesmo sem saber nadar pula na água para tentar salvar seu filho, ou não come para que seu filho possa comer.
(*) psicóloga e psicanalista