Vista e analisada inicialmente como mais uma passeata de fins eleitoreiros, foi gradativamente ganhando contornos mais visíveis e delineados: de passe livre, subsidiado pelo governo, para crítica clara e incontornável sobre – partidos políticos, educação, cotas, inflação, imprensa, Fifa, Copa do Mundo e, é claro, transporte público. Também aos poucos foi conseguindo a aprovação e adesão da populaçã todos aqueles que se deslocaram aos pontos de concentração e todos os que ficaram assistindo pela televisão.
A convocação geral partiu das redes sociais e ganhou espaço nacional pela comunhão de sentimentos e de objetivos de conduta. Apesar da tentativa de minimizar as causas do movimento, feita pelos dirigentes atuais e provável público/alvo, quanto à importância do sentimento originário, apregoando que tudo não passava de atitude esperada e inócua de uma juventude entediada em busca de um alvo contra o qual se rebelar, a força do agrupamento de 250.000 pessoas uníssonas na expressão do descontentamento não pode ser negada – os brasileiros gritam por mudanças.
O descontentamento é geral e incômodo, por isso as pessoas se organizam, abandonam a rotina do dia a dia e vão às ruas em multidão entoando palavras de ordem, ou até mesmo aplaudem os passantes das janelas dos apartamentos e escritórios, enfeitando-as com toalhas brancas. A massa conseguiu mobilizar aqui e acolá – o Brasil e o Mundo.
Não podemos esquecer a força e penetração das redes sociais ao possibilitarem uma comunicação pontual pela rapidez e facilidade e, eficaz pela confiança dos seus inúmeros emitentes. Cada um acionou seu grupo e, cada um do grupo por sua vez seus próprios grupos: em pouco tempo uma corrente nunca antes imaginada ligou o norte ao sul e 11 capitais acrescidas de muitas cidades saiu em marcha.
As pesquisas de opinião encomendadas de tempo em tempo pelo governo revelou sua invalidade. Tudo começou pela vaia histórica feita à Presidente Dilma na abertura da Copa das Confederações, em Brasília. Depois os protestos que se espalharam e repetiram com dia e hora marcada. Os nunca ouvidos pelas pesquisas soltaram a voz, cabe aos bons ouvintes o processamento adequado e consequente da mensagem. Isto quer dizer que a revisão das decisões do governo que há muito são forçadas “goela abaixo” aos brasileiros se torna imprescindível. São vários os pedidos em cartazes pelas avenidas, vale a pena conferir e atender.
A capacidade adaptativa do brasileiro impressiona os estrangeiros. Característica comprovada pelos períodos históricos de ditadura, inflação elevada, planos econômicos experimentais, e muito mais. Por tudo isso podemos dizer orgulhosamente: o processo de mudança já começou, pois o Brasil não será mais como antes!
(*) Psicóloga e psicanalista ilceaborba@netsite.com.br
