A investigação espontânea de ex-alunas da Irmã Cathy Cesnik, em busca dos fatos que culminaram...
A investigação espontânea de ex-alunas da Irmã Cathy Cesnik, em busca dos fatos que culminaram na sua morte em 1969, toma rumos inesperados com os depoimentos de vítimas de abusos sexuais, acontecidos no educandário, na mesma época, ligando-os à atuação do Padre Joseph Maskell, orientador espiritual e psicólogo institucional, juntamente a outros sacerdotes e policiais da pequena cidade de Baltimore, nos Estados Unidos. Torna-se impossível desligar a televisão sem antes chegar a uma conclusão sobre esta verdadeira rede de mistério e silêncio. (The Keepers)
A indagação minuciosa e popular, fruto do desejo de ex-alunas, inicia-se em 1992, revelando aos poucos uma intrincada teia de acontecimentos, fortemente interligados, em torno dos abusos sexuais cometidos, que se mostram fonte de traumas, repressões e cortes em várias pessoas. Mesmo aqueles que não passaram diretamente pela experiência invasiva de uma sexualidade não consentida e desejada sofreram as consequências, transformando o rumo de suas vidas de forma inexorável, como a Irmã Cathy, vítima de torturas ferozes durante os dois meses em que permaneceu em prisão domiciliar pelos seus sequestradores, perdendo sua vida ainda iniciante, abortando sonhos e realizações. Sua companheira de apartamento, Irmã Russel, depois de ficar “fora do ar” logo após a notícia do assassinato, abandonou a vida religiosa, saiu do educandário, mudou de cidade, casou e se tornou mãe, vindo a falecer, prematuramente, vítima de um câncer!
As cenas de violação aconteciam entre um adulto, que também era padre e autoridade na escola, frente a adolescentes ingênuas e desinformadas, que ouviam, ao mesmo tempo, agressões verbais, com vadia, puta, Deus não irá perdoar você!
Anteriormente, este mesmo estuprador, na época à frente de uma paróquia e escola para meninos em cidade próxima, abusou sexualmente de um menino, ensinando-o a beber e usar drogas; vícios que ele não teve condição de abandonar em sua vida de adulto. No entanto, este relatou à mãe o que estava sofrendo e ela imediatamente o denunciou às autoridades religiosas; o padre foi encaminhado para outra cidade e outra escola, agora para meninas, onde tudo recomeçou!
Até os dias atuais, este caso se encontra em aberto, sem conclusão ou punição pelos juízes, descrentes de que uma agressão desta importância não pode ser esquecida e 20 anos depois relembrada em detalhes! Os acontecimentos narrados pelos que sofreram a atuação abusiva do padre/psicólogo estão claramente explicados e comprovados pela teorização psicanalítica em seu conceito de recalque ou repressã “operação pela qual um indivíduo procura repelir ou manter no inconsciente – fora da consciência – representações, pensamentos, imagens e recordações” (Laplanche & Pontalis) capazes de provocar desprazer intenso devido às exigências morais e sociais.
(*) Psicóloga e psicanalista