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Mitos e crendices

Para Aristóteles “a semelhança do homem com o animal é o estar sujeito à mesma natureza animal. A diferença consiste em o animal estar sujeito à história

Ilcéa Borba Marquez
ilcea@terra.com.br
Publicado em 09/12/2009 às 21:04Atualizado em 20/12/2022 às 09:09
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Para Aristóteles “a semelhança do homem com o animal é o estar sujeito à mesma natureza animal. A diferença consiste em o animal estar sujeito à história, enquanto o homem possui a capacidade de ser sujeito da história. O grande problema dessa diferença é que um enorme número de pessoas não percebe a diferenciação.” Assim todas as instituições humanas tiveram sua fundação em uma necessidade imaginária ou real do próprio homem frente às duvidas, perigos, doenças e morte, neste processo que chamamos de vida.

Alguns homens de grande talento, no início, se esforçaram para ensinar a pureza, para superar a crueldade da raça, para exaltar sua moral, refinar seus modos bem como conter a sociedade. Torna-se impressionante, numa simples pesquisa histórica sobre as formas de castigos adotadas pela sociedade humana desde a antiguidade até os nossos dias, as cenas de tortura e suplício que revelam os modos habituais de punição de então. Cenas aterrorizantes se apresentam tais com a castração em vida, o retirar a pele do corpo em vida, as rodas que quebram todos os ossos simultaneamente, o fogo lento e constante que prolonga a vida e o sofrimento por dias e dias em praça pública até que a morte aconteça, as degolas nem sempre executadas por carrascos capazes que então vão lentamente, de golpe em golpe do machado, separando a cabeça do restante do corpo.  Não temos outras palavras para dizer destes martírios do que sadismo, perversão, violência e principalmente selvageria.

Como ilustração basta contar algumas cenas de justiça planejada e realizada pelos carrascos franceses sob as ordens de Felipe V – O belo – no século XIV.     Os amantes confessos da Rainha Margarida de Borgonha e da Princesa Branca d`Artois foram castrados, e seus pênis oferecidos à plateia entusiástica, esfolados vivos, colocados na roda para quebra de braços e pernas e depois, enfim degolados em praça pública para o deleite dos espectadores, em cena de puro gozo sádico. Tudo isso em plena era da uniã Igreja/Estado; do domínio papal sobre os reis; da conversão dos gentios.

Quem diria que este mesmo homem, na atualidade, cria leis de amparo aos mais fracos: velhos, mulheres e crianças; contra toda e qualquer agressão física, até mesmo dos pais no processo de educar seus filhos, numa era de crítica total às instituições religiosas e de redescoberta da alta civilidade dos gentios. (continua)

(*) psicóloga e psicanalista

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