Só mesmo uma mente privilegiada como Charles Chaplin poderia criar um roteiro cinematográfico cômico sobre assassinatos de velhas viúvas ricas, guerras, impunidades e punições.
Só mesmo uma mente privilegiada como Charles Chaplin poderia criar um roteiro cinematográfico cômico sobre assassinatos de velhas viúvas ricas, guerras, impunidades e punições. O filme vai gradativamente revelando a vida perversa e boa do Monsieur Verdoux na sua atribulada missão de sustento à esposa paralítica e seu pequeno filho amado através de conquistas, casamentos e assassinatos de velhas abastadas, em várias cidades, por isso mesmo tendo de viajar periodicamente, interpretar personagens diferentes em cada lugar, dar assistência às múltiplas esposas, conquistar o amor e a confiança até poder matá-las ficando com todos os bens financeiros. As cenas abrangem o período “entreguerras”, a II guerra mundial e pós-guerra, aparecendo algumas cenas do fascismo e do nazism umas referentes ao poder das massas e outras aos horrores dos massacres. Neste caso também expõe o ataque aéreo alemão à Guernica durante o apoio militar do III Reich à ditadura de Franco na Espanha. Evidentemente o Monsieur Verdoux foi preso, julgado e condenado à guilhotina para a qual ele se dirigiu com a mesma postura cortes e refinada que conquistava todas as mulheres! Tanto durante o julgamento quanto nos instantes finais da sua vida ele desafiou e criticou todos estes movimentos de pura violência e atentado direto aos direitos de vida das pessoas – as guerras, suas condecorações e aplausos aos mais cruéis ou aos que mais matam! Comparando-se aos heróis guerreiros ele salientou a contradição social que guilhotina aquele que matou poucos ao mesmo tempo em que condecora e aplaude aqueles que mataram milhões... Pune o que mata suavemente, através de venenos que ocasionam a morte durante o sono, e torna herói o que mata de forma feroz, aos milhares, rouba, estupra e violenta milhares de outras, como por exemplo, sua mulher e filho! Voltando nosso olhar para a atualidade notamos estas mesmas contradições estarrecedoras quanto à impunidade e penalidade aos crimes praticados: se estes forem cometidos em grande ou pequena escala, pelos governantes ou pelos simples e humildes. Os primeiros mesmo que tenham “desviado” fortunas nas cuecas, malas ou recebido indevidamente mensalidades assustadoras não serão punidos enquanto os menores ou aqueles que roubam pouco, estes sim estarão superlotando as cadeias e as promotorias municipais, perdendo até mesmo o direito de pertença ao social; os outros poderão até ser condecorados pela quadrilha e aplaudidos pelo povo! (*) psicóloga e psicanalista ilcea@terra.com.br Ilcéa Borba escreve às quartas-feiras neste espaço