Muitos nomes para uma experiência tão turbulenta e sofrida do brasileir ao amanhecer do dia 16/03/1990, logo após a posse do novo Presidente da República – Fernando Collor de Melo –, ocorrida no dia anterior, antecedida por disputada eleição e saraivada de promessas eleitoreiras, elegeu-se o jovem midiático governador de Alagoas, ferozmente apoiado pela Rede Globo de Televisão. A primeira ação do novo governo foi apresentar o Plano Collor para o combate à inflação, que chegara a incríveis 30% mensais.
A população acordou com o fechamento de todas as agências bancárias, em trabalho apenas interno, para adequação às novas medidas econômicas. A partir da meia-noite do dia anterior, todas as poupanças, depósitos em conta corrente e investimentos com CDBs e títulos “overnights” foram bloqueados até o limite de cinquenta mil cruzados novos. O excedente aos 50.000 cruzados novos seria retido pelo governo para financiar projetos econômicos e devolvidos ao final de 18 meses, com correção de juros em 6% ao ano. Além disso o plano também propunha congelamento de preços e salários.
Este foi o maior “golpe” aplicado ao povo que acreditou nas promessas de um candidato cujo slogan era: proteger a poupança e caçar os marajás – nenhum deles cumpridos posteriormente. Quanto sofrimento decorrente da crença nas palavras mentirosas de candidatos que só se interessam por ganharem a eleição e viverem anos de bem-aventurança assegurada.
É bom lembrar que essa era a primeira eleição direta após 20 anos de domínio das Forças Armadas e a indicação de presidentes oriundos de acordos internos dentro das próprias forças com critérios desconhecidos pela população. Foi preciso a união dos políticos, com o apoio massivo do povo no então “Diretas Já”, que culminou sob o nome de consenso, Tancredo Neves para Presidente, que, no entanto, não conseguiu tomar posse.
A partir daí, os partidos apresentaram candidatos, dando início ao processo de eleição, quando um desconhecido governador de Alagoas, com forte proteção e divulgação midiática, tornou-se palatável e possível Presidente do Brasil. O filme “Confisco” revela a verdade dos fatos acontecidos na preparação, apresentação e experiência do Plano Collor. Este, protagonizado por jovens economistas, sob a liderança da ministra Zélia Cardoso de Mello, que afinal o apresentou cheio de falhas e lacunas. Ao longo dos primeiros dias de vigência do plano, a toda hora o BC soltava normativas para regular uma coisa ou outra. Um processo mal elaborado, que, no entanto, seguia válido com a anuência dos Três Poderes – “um tacar fogo na casa apenas para assar um frango”.
Ilcea Borba Marquez
Psicóloga e psicanalista
E-mail: ilceaborba@gmail.com.br