Apesar da atenção dos profissionais sobre a questão da preservação dos traços definidores de cada pessoa podem ocorrer situações contrárias quando, por exemplo, o procedimento estético é devido a lesões traumáticas decorrentes de acidentes. Nesses casos o encaminhamento para terapêuticas adequadas é usual. Mas, existem também situações em que não ocorrem mudanças significativas na aparência, quando a intervenção é interna como transplante de órgãos ou implante de aparelhos auxiliares para alguma função fundamental como válvulas ou marca-passo. Tudo então será decorrente da capacidade pessoal dos transplantados ou implantados de adaptarem-se às situações novas, ou seja, sua capacidade de resiliência.
Recentemente assisti ao filme “Uma segunda chance para amar” que foca o período conturbado de uma jovem logo após passar por um transplante de coração. Inicialmente ela se afasta da família (refugiados croatas residindo em Londres) e desloca-se pelas ruas de Londres como se estivesse ali apenas de passagem carregando sempre sua malinha de viagem. Além dessa mensagem de ser uma viajante usava uma fantasia de Elfo em clara alusão ao espírito mágico do Natal e sua espera por um milagre na vida.
A mágica do Natal acontece quando se apaixona por um rapaz Tom encontrado casualmente nas redondezas do seu trabalho até que finalmente descobre ser ele é o doador do coração transplantado que lhe devolveu a possibilidade de viver com sua morte num acidente fatal.
Essa segunda chance de viver significou mudança estrutural em termos psicológicos uma vez que se aproximou da forma de ser do Doador buscando aproximações e festividades familiares, solidariedade empática com o próximo e vida produtiva para si mesma e para os que a rodeiam.
Poderíamos analisar diversas questões abordadas pelo filme: apaixonar-se pelo doador, sentir sua presença sensivelmente a ponto de tocá-lo e sentir seu toque, iniciar e manter relação afetiva com uma pessoa que não pertence mais ao mundo real... Todas estas situações aconteceram apenas na fantasia, no retorno do reprimido, já que não somos apenas consciência.
Ilcea Borba Marquez