A cidade de Amsterdã – capital da Holanda – tem um atrativo a mais no seu catálogo turístico: as mulheres nas vitrines. Em minha primeira visita àquela cidade, numa manhã corrida
A cidade de Amsterdã – capital da Holanda – tem um atrativo a mais no seu catálogo turístic as mulheres nas vitrines. Em minha primeira visita àquela cidade, numa manhã corrida para chegar à estação de trem e dar início a mais um dia de visitas aos lugares e regiões turísticas, encontrei-me subitamente numa rua onde uma vitrine especialmente diferente e, pra mim inesperada, atraiu minha atençã não eram nem oito da manhã e ela já estava lá, de prontidão para algum freguês matutino - uma mulher de mais ou menos trinta anos, com um duas peças, em pé, olhando atentamente para todos os passantes sem, no entanto, olhar verdadeiramente nos olhos de alguém. Mesmo sabendo desta particularidade holandesa eu desconhecia a região e vivi assim a surpresa de estar naquela rua tão falada e tão ciosamente conservadora de costumes antigos: rua onde as mulheres oferecem seus serviços sexuais, expondo-se na vitrine! Mal pude esperar até o final do passeio programado para aquele dia e poder voltar a tempo de passear tranquilamente por todo o bairro tão famoso!
Há poucas semanas a Revista Veja publicou uma reportagem onde a vida de uma jovem foi rastreada a partir de seu blog, Orkut e rede de relacionamentos e o resultado deste mapeamento assustou a própria jovem escolhida.
Ligando aquela experiência e esta, o ontem e o agora depois do advento da Internet, Orkut e sites de relacionamento, concluo que: todas as jovens ou adeptas destes diálogos virtuais bem como aficionadas pelo mundo da comunicação on-line estão se expondo em vitrines televisíveis! Qualquer pessoa interessada em conhecer alguém profundamente precisa apenas ser chamada para o espaço virtual internauta e dar início a uma pesquisa sobre ela. Nem precisa ser um hacker capacitado, basta seguir os torpedos, depoimentos, comunidades de pertença e, mais ainda o blog diário. Talvez a própria pessoa não saiba o quanto sua vida está exposta e nem tão pouco o quanto de si já mostrou ali.
Assim os segredos ou a intimidade de todos não se mantêm e o resultado é a experiência pessoal de uma transparência reveladora e perigosa, porque traz em si a possibilidade da perda de uma identidade identificatória, bem como de um sentimento de essencial, profundo e só meu. Não é à toa que o pavor dos jovens tem sido a traição e o desconhecimento. Nunca o ciúme esteve tão em alta!
(*) psicóloga e psicanalista