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Ninguém é profeta na sua terra!

A vida trágica de Luiz II da Baviera que nos legou, no entanto, o mais belo Castelo...

Ilcéa Borba Marquez
ilcea@terra.com.br
Publicado em 27/04/2016 às 20:19Atualizado em 16/12/2022 às 19:08
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A vida trágica de Luiz II da Baviera que nos legou, no entanto, o mais belo Castelo Romântico do Mundo – Castelo de Neuschwanstein – intriga e interessa quando reparamos sua ligação persistente e aderente ao herói wagneriano Lohengrin – O Cavalheiro do Cisne. Ludwig II dedicou a maior parte do seu tempo a ouvir, ler e pensar na ópera de Wagner construiu teatros para apresentá-la, e encenou a peça inúmeras vezes, tendo mesmo os atores à sua disposição para cantar suas árias preferidas durante passeios de barco em forma de cisne ou em qualquer cenário montado e desmontado no alto das montanhas. Sua identificação ao herói da peça é evidente.

Quem foi Lohengrin? Filho de Percival chegou ao reino onde deveria livrar Elza do seu inimigo num barco puxado por um cisne que o transportou e alimentou durante todo o trajeto. Como prêmio casou-se com a duquesa e herdou o reino com a condição de que sua esposa nunca lhe questionasse sua origem. Viveram felizes por certo tempo até que numa noite, a partir de intrigas, Elza fez a pergunta fatal. Quando amanheceu, Lohengrin revelou que era filho de Percival e se despediu, partindo misteriosamente, como chegara, no barco puxado por um cisne. Sua esposa vestiu luto e passou o resto dos seus dias na triste vivência do luto.

Nos contos que tratam do nascimento do herói vemos algumas concordâncias que suscitam interesse e instigam análise compreensiva: o herói é sempre estrangeiro, vindo de outro reino aonde chega de forma surpreendente ou ainda é filho adotivo resgatado das águas num cesto, bote ou barco puxado por cisne, como o herói Lohengrin. O velho provérbio usado aqui como título, “Ninguém é profeta em sua terra”, não tem outro significado do que afirmar a impossibilidade de fazer profecias para os seus iguais que o viram nascer, crescer entre irmãos, irmãs e companheiros de brinquedos. O herói que se acha exposto ao ciúme, à inveja e à calúnia em muito maior grau do que normalmente se blindaria de muitos sentimentos pesados caso fosse estrangeiro ou tivesse sua ascendência desconhecida, facilitando assim sua idealização – projeção de aspirações e desejos humanos.

Por outro lado, o desligamento do indivíduo em crescimento da autoridade dos pais constitui um dos passos mais necessários, mas também mais penosos, da evolução. Esse desligamento é absolutamente necessário e supõe-se ter ocorrido, em certa medida, em todos os indivíduos normais maduros. O progresso social se baseia essencialmente em tal oposição entre duas gerações.

(*) Psicóloga e psicanalista

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