Nos dias atuais ninguém contradiz que estamos à mercê de tudo e de todos, que podemos esperar agressões violentas a qualquer momento e de qualquer um, que não podemos mais estar seguros na vida cotidiana: imprevisibilidade, caos e violência estão em parte ligados e representam-na. Se violência é considerada como suspensão da ordem, o inesperado e, a ruptura de contornos nos arranjos sociais é inegável a época de caos que vivemos, portanto violenta, onde a todo instante sabemos que nosso vizinho foi torturado, agredido e ameaçado para entregar joias ou dinheiro supostamente existentes na casa. Por exempl o pai que diante de seu filho levou coronhada na cabeça e pontapés no rosto; o jovem que teve seu corpo molhado com álcool e em seguida ameaçado de ser consumido pelo fogo caso não mostrasse o local que guardaria dinheiro e joias. Considerada como transgressão às regras sociais, duramente conquistadas, a violência aponta para a emergência do imprevisível e seu efeito seria o de produzir o caos – é a guerra de todos contra todos.
A violência também é aspecto integrante da vida do homem, em termos da manutenção da sobrevivência: para viver o homem precisa destruir como – quando ocupa espaços que colocam em risco a sobrevivência de determinadas espécies de animais; quando faz guerra com consequências exterminantes de vidas e produtos; quando pratica terrorismo; quando prioriza os avanços tecnológicos desenfreados; quando escraviza e explora a natureza para objetivos de produção de energia e tantas outras. Sintetizand destruição e criação são dois princípios que regem a natureza – para criar o homem precisa sempre destruir alguma coisa, não há outra maneira de fazê-lo. No âmago das ações humanas encontramos a violência em seu sentido destrutivo, porém, quase sempre, a esperança do homem é a de que seu esforço estaria a serviço do bem estar e da melhoria de condições de vida.
O que merece ser analisado é que o homem não consegue impor diques para amortecer a potencialidade das ações violentas e tampouco consegue controlar os efeitos do arsenal de destruição que produz, mesmo porque, em muitas situações, uma descoberta que é direcionada a serviço do bem, pode também ser utilizada para a destruição em massa. A violência é imanente à condição humana e está inscrita em uma memória que remonta à ancestralidade: as guerras sempre existiram; civilizações sempre dominam outras. Mas, quando nos voltamos para o presente cotidiano constatamos que a violência parece crescer de forma incontrolável e quando buscamos formas de controle o fazemos também de forma violenta. O que o homem tem a fazer diante da violência? Teríamos resposta para esta indagação? Poderíamos ao menos refletir no sentido de produzir explicações.
(*) P sicóloga e psicanalista ilceaborba@netsite.com.br