ARTICULISTAS

Nossa demanda pela unificação

De acordo com as contribuições do filosofo racionalista René Descartes (1596-1650)

Ilcéa Borba Marquez
ilcea@terra.com.br
Publicado em 14/12/2011 às 19:37Atualizado em 19/12/2022 às 21:00
Compartilhar

De acordo com as contribuições do filosofo racionalista René Descartes (1596-1650), que dividiu o homem em duas partes distintas: a alma englobando a mente por ser imaterial, sem peso e sem extensão e de origem espiritual; e o corpo, que é material e apresenta peso, extensão e organização de diversas partes; nasceu também uma demanda imperiosa pela unificação desta dualidade que encontramos em várias criações poéticas, artísticas e culturais. Nos textos dos Irmãos Grimm este tema aparece em muitos contos, como os que retratam as aventuras de dois irmãos: “Irmão e Irmã” onde os protagonistas representam as naturezas díspares das estruturas do Eu e cuja mensagem principal é que eles devem ser integrados para a felicidade humana.

Na estória “Irmão e Irmã” o irmãozinho tomou sua irmã pela mão e disse: “Venha, nós seguiremos juntos pelo mundo imenso.” Assim caminharam o dia inteiro por campos, campinas e extensão rochosas...” No dia seguinte às suas andanças chegaram num regato onde o irmão quis beber, mas a irmã ouviu a água murmurar: “Quem beber de mim virará um tigre”. Devido às suplicas da irmã, o irmão se absteve de beber, apesar de pressionado pela sede. Já no terceiro regato que encontraram, o irmão não conseguiu seguir os pedidos da irmã e ao beber da água se transformou num corço. Ela consciente de que nunca abandonaria seu irmão-corço, prendeu seu cinto dourado no pescoço do veado, colheu alguns juncos e os teceu numa trela macia que amarrou ao pequeno animal. Então, a irmã e o veado continuaram.

Os irmãos ainda passaram por mais duas provas – a caça ao veado e o assassinato da irmã – antes de conseguirem fazer justiça, queimando a feiticeira e desfazendo o encantament o corço retomou sua forma humana e “Irmão e Irmã” viveram felizes e juntos até o final de seus dias.

A importante mensagem do conto é de que as tendências animalescas num homem (o veado) e as anti-sociais (a feiticeira) ao serem abolidas permitem que as qualidades humanas floresçam. Duas linhas de pensamento são combinadas: a integração dos aspectos díspares de nossa personalidade só pode ser obtida depois de abolidas as características anti-sociais, destrutivas e injustas; e isto não pode ser conseguido até alcançarmos uma maturidade integral. A estória também aborda dois momentos de suprema importância na vida: deixar a casa paterna e fundar a própria família. Estes são os dois períodos da vida onde somos mais vulneráveis à desintegração, porque temos que abandonar um antigo caminho de vida e adquirir um novo.

(*) Psicóloga e psicanalista

Assuntos Relacionados
Compartilhar

Nossos Apps

Redes Sociais

Razão Social

Rio Grande Artes Gráficas Ltda

CNPJ: 17.771.076/0001-83

JM Online© Copyright 2024Todos os direitos reservados.
Distribuído por
Publicado no
Desenvolvido por