ARTICULISTAS

Novas faces da guerra

Das Guerras Mundiais vividas ficamos com uma lição: guerras nunca mais!

Ilcéa Borba Marquez
ilcea@terra.com.br
Publicado em 25/04/2012 às 20:28Atualizado em 19/12/2022 às 20:01
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Das Guerras Mundiais vividas ficamos com uma liçã guerras nunca mais! Mas o que fazer da pulsão de destruição que está na base de todo comportamento agressivo do homem? Ao falar sobre ela, Freud esclarece sua amplitude, mostrando-nos que a força destrutiva do homem é a responsável não só pelos comportamentos claramente agressivos, mas também pela exploração do trabalho sem compensação, pela utilização sexual sem o consentimento prévio, pelos roubos – a apropriação das posses –, pelas humilhações, pelos sofrimentos, torturas e assassinatos. A acusação é violenta e severa. Não se trata da pulsão de dominação que existe na origem da crueldade infantil (no sentido da indiferença da criança ao sofrimento alheio), mas de uma pulsão agressiva (ou destrutiva inata) que percorre todos os campos do comportamento humano e vai se exprimir tanto através de condutas sociais banais (exploração do trabalho de outrem), como através de condutas consideradas como associais: martirizar e matar alguém.

A partir do momento em que se reconhece sob o homem “o lobo”, compreende-se este ideal imposto de amar ao próximo como a si mesm é preciso defender a civilização da ruína que perpetuamente a ameaça – a má vontade e a hostilidade que reinam entre os homens.

Esta mesma força destruidora está na base da coesão grupal: outra forma de conter o impulso agressivo. Por ela os vários agrupamentos humanos, tais com torcidas futebolísticas organizadas, laços identificatórios dos vários clubes, nações, religiões e bandeiras; dirigem o ódio aos estrangeiros – aqueles que estão fora dos grupos porque não comungam os mesmos gostos ou crenças ou não pertencem à mesma raça e seita – que na qualidade de inimigos podem ser desprezados e destruídos. A civilização adota, assim, uma dupla estratégia: impedir a agressividade de se exprimir entre os membros do grupo, reforçando, ao contrário, o vínculo afetivo e as identificações mútuas, e favorecer a manifestação da agressividade contra os outros grupos que, de adversários respeitáveis, tornam-se inimigos inferiores e causa de todos os males sofridos pelo grupo. A constituição e solidificação de um grupo estão na dependência de se encontrar um “bode expiatório”, que se torna automaticamente sua vítima. Esses inimigos criados e recriados continuamente no exterior (os estrangeiros), quer eles constituam uma ameaça real ou não, revela a essência de toda a civilizaçã a guerra generalizada.

(*) Psicóloga e psicanalista

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