Basta ligar a televisão ou abrir o jornal para sermos agredidos com cenas de violência sobre professores, profissionais de saúde, mulheres e/ou crianças! Parece que a imagem do Mal e a da vítima são dotadas de poder midiátic são poderosas imagens de espetáculo para nossa indignação e compaixão acalmando nossa consciência. Precisamos das imagens da violência e do Mal para nos considerarmos sujeitos éticos.
Esta atenção atraída e dirigida à violência em geral oportunizou a criação nos Estados Unidos de uma nova disciplina – Vitimologia – que consiste em analisar as razões motivadoras a um indivíduo tornar-se vulnerável nos processos de vitimização, as consequências que isso lhe causa e os direitos a que dispõe. A psicanalista Marie France Hirigoyen apresenta uma abordagem singular ao analisar a questão de como atualmente sentimo-nos atraídos pela perversão e violência, apesar de amedrontados, fica-se do lado dos indivíduos perversos porque se sabe que isto é melhor do que ficar contra eles. É a lei do mais forte. O mais admirado é aquele que sabe gozar melhor e sofrer menos. A cena mostrada, hoje, de jovens agredindo a professora e destruindo a sala de aula mostra-nos uma postura corporal de “gozo” e de espetáculo, pois tinham consciência de que estavam sendo filmados e que estes vídeos seriam compartilhados nas redes sociais. Este saber não provocou nenhum sinal de vergonha ou tentativa de minimizar as ações. Eles portavam-se como artistas em “dia de gala”.
Contraditoriamente ao dito vivemos uma época de liberdade sexual e violência: a sociedade não regula e reprime a sexualidade como anteriormente. Desde os anos setenta impera entre os homens liberdade de ações e diálogos sobre as questões sexuais. Fala-se com muito mais liberdade sobre desejo, prevenção e consequência sexual. O fato das barreiras entre pais e filhos terem se atenuado significativamente, além da influência dos meios de comunicação aliada à liberalização das escolas, são certamente fatores que influenciam no processo de economia e organização das pulsões. Mas, mesmo podendo se assumir como seres sexuais e desejantes, a juventude se mostra ressentida e insatisfeita. Talvez a moral, a ameaça de perda do afeto por estar transgredindo as regras sociais, não seja tão forte e impactante para a inibição dos impulsos. Na verdade o sujeito se vê abandonado à força de seus impulsos e sofre uma pressão insuportável. Só lhe resta um caminh erigir como defesa de eleição os atos perversos e teatrais que aportam em si mesmos uma força adicional de contenção das pulsões, tornando-se aliados na luta interna e íntima de regulação da força pulsional.
(*) psicóloga e psicanalista
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