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O avesso da proteção masculina

Perder não é fácil. Todas as situações de perda ocorrem numa vivência emocional de angústia experimentada...

Ilcéa Borba Marquez
ilcea@terra.com.br
Publicado em 21/11/2012 às 09:18Atualizado em 19/12/2022 às 16:10
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Perder não é fácil. Todas as situações de perda ocorrem numa vivência emocional de angústia experimentada como desprazeirosa, paralisante, forte e frustrante. Como exemplo podemos focalizar a vivência do lut perda de uma pessoa amada, seja por morte ou abandono, tanto faz – tanta dor só pode se referir a algo vivido como quebra de fantasias antigas e poderosas: ter e ser tudo. Na perda, estas fantasias são postas à prova da realidade, como não existente, já que ninguém é completo, tampouco poderoso.

No entanto, existem algumas pessoas que não podem perder: demonstram uma disposição favorável a se constituírem como tendo tudo, seja na parte econômica, afetiva ou interna. Financeiramente, ter o sucesso absoluto; afetivamente, ser tudo para o outro; internamente, manter intacta a fantasia de tudo possuir, tudo controlar e tudo dominar. Buscam todas as lutas de prestígio, todos os combates grandiosos e dolorosos. Não são nem um pouco autoprotetores ao se exporem assim, sustentados como estão, imaginariamente, de sua força ilimitada e irreal tanto quanto ilimitada.

Se afetivamente, ao quererem ser tudo para o objeto, dando-lhe tudo, parecem preocupar-se com o bem-estar e a felicidade de seu companheiro, na realidade só procuram nada perder. Perder o outro no relacionamento amoroso só pode remetê-lo à castração significada na perda. Isso é uma falha em sua imagem narcísica. Inversamente, ultrapassar a castração e manter um status fálico (poderoso) junto à mãe ou junto a qualquer outra mulher que a substitua é toda sua glória. Na história de vida dessas pessoas encontramos sempre um período em que viveram a sensação altamente prazerosa da preferência materna. Foram filhos preferidos durante algum tempo, por alguma coisa. Depois, apesar da mudança experimentada de não ser mais o preferido, existe, todavia, a possibilidade de voltar a ser. A recorrência da fantasia de ser o preferido, o eleito materno, está sempre sendo revivida.

Nos seus relacionamentos amorosos o espaço de investimento na relação é proeminente. Frequentemente eles dão o melhor de si mesmos, isto é, paradoxalmente tudo e absolutamente nada. “Tudo” no sentido que eles podem tudo sacrificar; “nada”, à medida que não aceitam perder. Não se trata de duas disposições incompatíveis. Muito ao contrário, é nesta medida que se estabiliza qualquer estratégia desejante – há o que poderíamos chamar o “amordaçamento do desejo”; uma forma característica de lidar com o parceiro em referência ao desejo e ao gozo.

 

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