Todos aqueles que buscam conhecer a sequência de personalidades heroicas ou não que estruturam a nossa história, vivem momentos de perplexidade ao constatar o número significativo de “apagados” existentes ao mesmo tempo em que “outros” aparecem como “tampões”. Assim a Imperatriz Maria Leopoldina – arquiduquesa de Áustria, primeira imperatriz-consorte do Brasil, casada com D. Pedro I, pertencente à Casa Real de Habsburgo, filha de Maria Teresa da Sicília e Francisco I de Áustria, regente em 1821 e 1826 – tem seus feitos e importância obscurecidos em detrimento da Marquesa de Santos, conhecida amante de D. Pedro I! Da mesma forma, Gastão de Orléans, Conde d’Eu, casado com Isabel de Bragança, princesa imperial do Brasil, tem sua atuação pontual e decisiva na conclusão vitoriosa do Brasil durante a Guerra do Paraguai, obscurecida pela decantada presença do Duque de Caxias, agraciado, posteriormente, com o título de Patrono do Exército Brasileiro.
Pertencendo à dinastia Orléans, neto do último rei da França, Luiz Felipe, o Conde d’Eu – Gastão viveu entre botas, espadas à cinta e apetrechos militares. Tanto o avô quanto o pai, tios e primos eram militares de carreira e, mais do que isso, apaixonados pela vida da caserna. Para o duque de Nemours – pai de Gastão –, a honra de um homem dependia da sua vida de glórias em batalhas.
Quando o Brasil declarou guerra ao Paraguai, o jovem consorte se apresentou para participar ativamente na liderança do conflito e foi rejeitado pelo sogro D. Pedro II por inúmeras vezes! Mas um fato inesperado veio abrir oportunidades inimaginadas até entã depois de esmagadora vitória em três batalhas – Avaí, Itororó e Lomas Valentinas –, o marquês de Caxias, então com 65 anos e saúde debilitada, recusou-se à abominável tarefa de caçar o presidente Dom Francisco Lopez em estratégica retirada ao interior do país, escondendo-se e, ao mesmo tempo, reorganizando seu exército. Caxias simplesmente abandonou o posto de que chamava “grande guerra” e voltou silenciosamente ao Rio de Janeiro. Foi um choque para o Imperador, que logo engoliu a raiva e o perdoou. Imediatamente o imperador percebeu que só havia uma pessoa com prestígio suficiente para ocupar o lugar do velho comandante em chefe: o genro a quem recusara tantas vezes o pedido de lutar. Convite feito, convite aceito!
Da dificuldade e desconfiança iniciais vividas pelo Conde d’Eu para aceitar a proposta do sogro floresceu a semente antiga da honra militar: buscou conhecer os caminhos e a topografia a fim de preparar um plano capaz de esmagar Lopez. E, em março de 1870, após batalhas ferozes, sofrimentos e doenças, recebeu a notícia: Lopez expirara sob os golpes de lança de um caporal do 19º de cavalaria entre Aquibadã e Apa. Realizara a contento a difícil missão recebida! Talvez uma guerrilha propriamente dita.