A sociologia fornece-nos uma teoria a fim de descrever o conjunto de pessoas que, por razões sociais, raciais, étnicas ou culturais se encontram à margem de um grupo social dominante – é a noção de homem marginal. Stonequist deu a seguinte definiçã “o homem marginal é um indivíduo cuja existência e vínculos são tais que ele toca duas ou muitas sociedades interpenetráveis, mas onde certas incompatibilidades tornam difícil sua própria adaptação à uma ou a outra destas sociedades. Ele não pertence, na verdade, a nenhum destes grupos e nem se sente à vontade. Esta impressão de exclusão e de isolamento não é ressentida igualmente, nem da mesma maneira, nem pelas mesmas razões, por cada indivíduo, e nem se reproduz sempre de maneira idêntica numa dada situação. Para muitos deles, é uma questão de assimilação cultural incompleta numa destas sociedades ou nas duas; para outros, trata-se menos de incompatibilidade cultural que de ostracismo social; e, em outros casos ainda, a existência de barreiras externas é menos efetiva que a persistência de determinados lealismos e de certas inibições.” Evidencia-se, assim, que o fator determinante que cria a personalidade marginal é o grau de diferença cultural, racial ou social, que produz um sentimento excessivo de inferioridade. Em alguns casos conduz a comportamentos agressivos perante o grupo dominante com consequentes respostas também agressivas que agravam as hostilidades já existentes entre eles.
Conforme as situações, os “marginais” podem resolver seus problemas de diferentes maneiras: pela assimilação ao grupo dominante ou por uma identificação mais ou menos completa ao grupo subordinado. No primeiro caso, o problema pode ser resolvido ao fim de certo tempo. No segundo caso, a identificação do indivíduo marginal ao grupo subordinado pode conduzir a um papel intermediário ou ainda a uma decisão nítida de se fechar num estreito grupo particular. Muitas vezes estas duas últimas atitudes coexistem e criam um conflito numa oscilação possível entre o ódio e o rancor diante de um ou outro grupo – tanto ódio ao grupo dominante, como ódio a si mesmo. Para livrar-se desses sentimentos ameaçadores e destrutivos um caminho é a identificação a um líder/mito que ordene, em seu nome, o massacre indiscriminado a todos.
(*) Psicóloga e psicanalista