A revolução psicanalítica também é uma bomba que detona com os contornos nítidos entre a psicologia individual e a social. Para Freud “algo mais está invariavelmente envolvido na vida mental do indivíduo, como um modelo, um objeto, um auxiliar, um oponente, de maneira que, desde o começo a psicologia individual é ao mesmo tempo também psicologia social”. Assim a psicanálise vê sempre o indivíduo nas suas relações com os outros neste momento encarnando a alteridade; não existe a possibilidade de isolar uma pessoa do social já que os outros estão sempre nas representações que fundam e fundamentam o aparelho psíquico, e vice-versa. A ideia central de Freud é detonar as pretensões dos caracteriologistas ao buscarem definições conceituais de personalidade e desvios mentais a partir de fatores orgânicos ou psicológicos endógenos isolados.
“Freud torna ridícula a pretensão de certa sociologia que pretende ignorar o psiquismo individual e coletivo na explicação dos fenômenos sociais.” (Enriquez) Não podemos isolar a pessoa do social da mesma forma que não podemos ignorar a singularidade do sujeito na pluralidade grupal. Estamos sempre em contato com outros seres humanos e, sabemos disso porque aceitamos vê-los em suas singularidades ao mesmo tempo em que aparecemos para os outros seres humanos em nossa diferença e unicidade.
Todo este preâmbulo torna-se necessário para sustentar uma reflexão clarificada pelos conceitos psicanalíticos frente a mais um ato “estranho” organizado pelos nossos atuais dirigentes dentro deste programa “Mais Médicos”. Como previsto desde o início os médicos cubanos aportaram de vez no país a partir da falaciosa necessidade de assistência médica nas regiões mais distantes e carentes. Como também sabíamos Cuba agora aluga/vende seres humanos uma vez que não possui agricultura, indústria e nem matéria prima. Uma nova era de “navios negreiros” foi iniciada por este governo que porta a bandeira do socialismo e da igualdade de direitos. O governo cubano, e só ele, recebe por esta transação de pessoas/serviços o valor de R$ 10.000,00 por cabeça/mês e repassa aos seus apátridas o equivalente a R$100,00, embolsando o restante! Isto me lembra muito a época já banida da escravidão onde os proprietários alugavam seus escravos auferindo com isso grandes lucros sob o argumento de que eles tinham todas as suas necessidades básicas resguardadas pelos donos!
Desde seu início o movimento psicanalítico disse adeus a uma sociologia que agrupa num mesmo conjunto pessoas de características socioeconômicas semelhantes, sem a devida análise de cada um separadamente em seu projeto de vida, consciência de si e dos outros bem como valores norteadores de conduta. Da mesma forma acreditamos que o direito do grupo não supera o do indivíduo concreto com seus ideais, modelos, auxiliares e oponentes.
(*) Psicóloga e psicanalista