Qualificar pessoas, objetos, construções ou situações como belas é relativamente fácil e todos já o fizeram em algum momento, mas conceituar o belo ou a beleza apresenta dificuldades que invocam a necessidade de buscar ajuda nos textos filosóficos. Inicialmente reconhecemos na beleza o resultado de uma experiência singular que agrada sobremaneira àquele que a experimenta. É a percepção de algo que produz sensações prazerosas independente de ser uma pessoa, um animal, uma obra de arte, uma paisagem, uma harmonia sonora ou outras – está ligada à percepção e produz prazer.
Usamos o conceito de percepção não apenas a um dos sentidos humanos como o olhar, o tato, a audição, etc. Apesar da construção do mundo humano dever muito ao olhar já que o homem vê a realidade e a apreende inclusive pelo olhar os sentidos se traduzem uns nos outros, quer dizer que não apreendemos o mundo por este ou aquele sentido, mas os sentidos se integram numa totalidade, são meios diversos que o homem dispõe para apreender a diversidade do real. Esta também está submetida ao momento históric o homem não viu sempre a realidade como vê agora, através da história o homem aprendeu a ver, criou formas de ver, algumas desapareceram e outras foram criadas.
Assim “A Monalisa” pertence ao conceito de beleza como conexão à matemática ou ainda como beleza e virtude por isso desperta percepções díspares que vão da admiração profunda ao repúdio e incompreensão por toda a sua fama. Já a “Estátua de Zeus em Olímpia” surpreende por sua grandeza: 12 metros de altura em marfim e ouro rodeada de colunas majestosas que apequenam o visitante em nítido contraste, mostrando que a arte quer ser uma mensagem nova e inesperada cujo fundo de onde sobressai inclui o próprio homem frente a algo muito maior e importante: os deuses – fator de irrealidade, de delírio, de vertigem, de desequilíbrio. Também “O Cristo Redentor”, elevado recentemente à categoria de uma das maravilhas mundiais, se insere nestas belezas impactantes junto a Pirâmide de Quéops, O colosso de Rodes, A muralha da China, A Torre Eiffel e outros.
Trazendo a discussão para os dias atuais e sabendo da influência histórica/cultural sobre a experiência do belo, como compreender o gosto latino pelas formas volumosas e avantajadas dos padrões brasileiros que glorificam as mulheres melancias, as mulheres maçãs ou mulheres moranguinhos? Será evidência de uma cultura perversa como querem os europeus? Beleza é simetria e proporção, pois significa ausência de defeitos adquiridos ou genéticos, estas mulheres/frutas são a expressão do absurdo, do ridículo do exibicionismo. São ainda revelação do gosto barroco – a desorganização, a irregularidade, o exagero, o antiestético – a revolução sexual do momento. (continua)
(*) Psicóloga e psicanalista