Leitura obrigatória nos anos sessenta, O Pequeno Príncipe, de Antoine de Saint Exupéry
Leitura obrigatória nos anos sessenta, “O Pequeno Príncipe”, de Antoine de Saint Exupéry, conta a história da relação de um adulto e uma criança chamada: O Pequeno Príncipe. Aquele relata a história infantil das suas frustrações caracterizada por uma série de intromissões por parte dos adultos. Lembra que, aos seis anos, tinha visto num livro, chamado “Histórias vividas”, uma ilustração de uma cobra boa, mais conhecida por jiboia, engolindo por inteiro uma fera. Esta boa cobra demorava seis meses para digeri-la. A então criança tentou reproduzir, com lápis de cor, a imagem da cobra engolindo a fera e desenhou um chapéu. Quando o pequeno desenhista perguntava aos adultos se o desenho os assustava, eles respondiam que não, que não havia por que se assustar com um chapéu. Devido aos comentários adversos das pessoas grandes, a criança abandonou a carreira de pintor naquela mesma época, aos seis anos. Guardou, porém, o desenho do chapéu e, em sucessivas oportunidades, voltava a perguntar sobre o desenho, obtendo como resposta invariável que era um chapéu. Isto aprofundou a distância entre a pequena criança “autista” (segundo Berenstein) e os adultos.
Exupéry situa seu texto como relato de uma experiência do adulto ocorrida há seis anos, quando ele caiu no deserto, devido a um acidente com seu pequeno avião. Foi aí que lhe apareceu o Pequeno Príncipe. O aviador mostrou, então, o desenho e, para sua surpresa, ele lhe respondeu que era uma cobra boa. O Pequeno Príncipe, continuação do piloto-criança-autista, confirma como verdadeira a falsa percepção do desenho.
O Pequeno Príncipe conta que provém, por sua vez, de um planeta particular, pequeno, onde morava sozinho e onde há sementes terríveis de árvores chamadas baobás. Se não forem arrancadas no tempo certo, as plantas se convertem em árvores, cujas enormes raízes invadem e perfuram o planeta, que, já sendo pequeno demais, corre o risco de estourar. Cabia ao Pequeno Príncipe fazer a limpeza do planeta, arrancando os baobás enquanto eram pequenos. No entanto, estas árvores terríveis, quando pequenas, parecem muito com as roseiras, das quais é necessário distingui-las para eliminar uns e conservar as outras.
O eixo central do trecho acima é que as árvores invasoras e destrutivas, se não fossem impedidas de crescer, poderiam estourar o pequeno planeta – o poder de certas ideias e crenças de crescer de formas desmesuradas, fazendo explodir o mundo mental. Certamente, há ideias na mente das pessoas e partilhadas por outros, sobretudo numa família, que se convertem, às vezes, em mitos estruturantes, com efeitos altamente nocivos, como, por exemplo, uma crise psicótica, uma tentativa de suicídio ou homicídio.
(*) Psicóloga e psicanalista