Numa roda de advogados e psicólogos o tema invariavelmente se situa nas interfaces do direito com a psicologia: criminologia, perversões e sociopatias. Foi isso mesmo que aconteceu em recente promoção do IBDFAM (Instituto Brasileiro de Direito de Família) – Núcleo Uberaba para uma prosa sobre violência doméstica e Lei Maria da Penha. As questões em pequeno grupo e na espera do início da mesa redonda giraram em torno da psicopatia com seus grandes e renomados representantes bem como os seus percentuais. Impressiona bastante pensar que 4% da população apresenta esta psicopatologia e mais ainda quando os nominamos: Stalin, Hitler, Mussolini, Lenin, Pastor Jim Jones; ou analisamos as grandes filmagens que os focam: O Silêncio dos Inocentes, O Canibal, A malvada, Um corpo que cai, dentre outros.
O desconcertante neste transtorno antissocial da personalidade é a integridade das funções psíquicas e mentais em contraposição às condutas sociais alteradas, donde sua má fama. É bom salientar, já de início, que as atualizações perversas não obedecem a objetivos deliberadamente corrosivos. Acompanhamos Joel Dor quando diz que as estratégias do processo perverso exercem-se bem menos com o objetivo de lesar do que gozar. É esse gozo que exerce incontestavelmente no outro um polo de atração que ao mesmo tempo fascina e seduz, mas também provoca rejeição. O perverso tem a audácia de trazer à luz do dia o que tortura secretamente todo aquele que jamais se autoriza a efetivá-lo.
O psicanalista Joel Dor recebeu para análise um jovem voyeur de 22 anos cuja compulsão comportamental consistia em seguir mulheres com seus vestidos esvoaçantes ou minissaias nas escadas rolantes dos shoppings e aeroportos para tentar ver, com a ajuda de um pequeno espelho amarrado a um arame ou depois com um “sapato óptico” onde um espelho foi estrategicamente acoplado à sua extremidade, o que se escondia debaixo das saias femininas. Com estas armas ópticas ele se colocava atrás de sua vítima e observava à vontade durante toda a subida da escada rolante. Mesmo tendo sido detido várias vezes pelos seguranças ele prosseguia com seu comportamento ilegal demonstrando que o importante era sem dúvida ver, mas também correr o risco de ser visto vendo – objetivo constantemente perseguido nas condutas voyeuristas.
Como ficou claro para o psicanalista o gozo desse paciente não residia propriamente falando na visão das roupas de baixo ou do sexo das mulheres. Ele sustentava-se, essencialmente, em representações imaginárias, fantasiosas das quais o espelho era apenas pretexto. Seguindo a teoria psicanalista tratava-se de exorcizar a angústia de castração, mobilizada pela diferença dos sexos; ou seja, tentar ver o que não pode ser vist o famoso pênis que falta à mulher, outra forma de evocar o falo e, mais geralmente, a questão da atribuição fálica do Outro – a reconhecida Lei do Pai.
(*) Psicóloga e psicanalista ilceaborba@netsite.com.br