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O tempo do olhar

Vivemos numa época onde tudo é produzido para ser visto, onde tudo se mostra ao olhar

Ilcéa Borba Marquez
ilcea@terra.com.br
Publicado em 07/12/2011 às 20:14Atualizado em 19/12/2022 às 21:07
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Vivemos numa época onde tudo é produzido para ser visto, onde tudo se mostra ao olhar. Não existem mais véus e mistérios. Vivemos na era da sobreexposição e da obscenidade, saturado de clichês, onde a banalização das coisas imagens foi levada ao extremo. Para ver e se deliciar com as visões não precisamos nem mesmo sair à rua. As imagens estão à nossa disposição nos aparelhos de mídia que se atualizam e multiplicam numa velocidade inacreditável.

Anteriormente, um caminhar lento surgiu na filosofia e na poesia com a figura do “flaneur”. Personagem do final do Século XIX era aquele que vivia na rua como se estivesse em casa, fazendo dos cafés sua sala de visitas e das bancas de jornal a sua biblioteca. Cafés franceses tornaram-se pontos turísticos obrigatórios por receber diariamente a visita de pensadores reconhecidos mundialmente, como Jean Paul Sartre e Simone de Beauvoir sempre acompanhados por seus debatedores. No Brasil da Bossa Nova, Tom Jobim e Vinicius de Moraes da mesa cativa em bar de Ipanema viam a Garota de Ipanema à caminho do mar – nascia assim uma das mais belas contribuições para o movimento musical brasileiro, que consagrou definitivamente não só a dupla de compositores, mas também a musa inspiradora.

Estas figuras únicas do conhecimento, da sabedoria e da arte pretendiam um olhar capaz de captar as coisas como eram tanto na sua beleza quanto no seu desafio ao pensar.

Com a generalização o olhar e seu produto a imagem passaram a constituir realidade tornando difícil a distinção entre real e representação do real. Neste universo feito de imagens, o real não tem mais origem nem realidade. Não existe um mundo verdadeiro atrás das imagens representativas, não há nada além das imagens. Tudo é superfície sem fundo. Tudo é imagem e imaginação. Não há mais distinção entre realidade e artifício, entre experiência e ficção, entre história e estórias.

Neste mundo de personagens e cenários, tudo é “imagerie”. Tem a consistência de mito e imagem. A cultura contemporânea é de segunda geração, onde a história, a experiência e os anseios de cada um são moldados principalmente pela TV e a INTERNET. São vidas em segundo grau – todas estas histórias já foram vividas, todos estes lugares visitados. Se pensar é estar doente dos olhos, precisamos urgentemente adoecer para readquirir a capacidade pensante.

(*) Psicóloga e psicanalista

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