ARTICULISTAS

O trampolim da vitória

Ilcea Borba Marquez
ilceaborba@gmail.com
Publicado em 30/05/2023 às 21:07
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Poucos brasileiros, hoje em dia, conhecem a verdadeira e completa participação brasileira nas operações de guerra do período da II Guerra Mundial. Além da atuação em campo de batalha da FEB – Força Expedicionária Brasileira, o Brasil, em acordo bilateral, estruturou possibilitando o voo transatlântico de aviões norte-americanos e britânicos a partir da criação da maior base aérea norte-americana fora do território estadunidense, em Parnamirim Fields, em território brasileiro – Rio Grande do Norte/Parnamirim. Esta base aérea foi fator determinante no desfecho vitorioso dos aliados na II Grande Guerra. Em 40, com uma nascente indústria de aviões, a capacidade de voo das aeronaves norte americanas e britânicas eram restritas e impossibilitavam a travessia do Atlântico sem um abastecimento na costa brasileira. Assim, a criação em Parnamirim da Base Aérea “Trampolim da Vitória”, a primeira e maior fora do território dos EEUU, significou um marco histórico de relações públicas, acordos bilaterais e diplomacia, mesmo porque o Brasil vivia as consequências da Revolução de Trinta em seu viés esquerdista da Era Vargas.

No Rio Potengi já havia uma rampa para hidroaviões que permitia aterrisagem e decolagem de hidroaviões, que mesmo assim não suportaria a imperiosa necessidade de uma Guerra Mundial, com aviões potentes e equipados. Essa base aérea recebeu em torno de 20.000 aeronaves a caminho da África e China e em retorno. A exigência era astronômica de movimento aéreo para transporte de soldados, alimentos, munições, correspondência e feridos – uma verdadeira linha de suprimentos –, recurso fundamental numa guerra.

Após a concordância do Governo Vargas com suas contrapartidas, os técnicos norte-americanos iniciaram as construções necessárias, em tempo recorde, trazendo também consigo maquinário de ponta como moto niveladora, retroescavadeira e tantas outras capazes de construir pista de pouso, oleoduto e estocagem para o esforço e guerra. Natal, até então uma pacata capital nordestina, com 50.000 habitantes, viu sua população duplicar para 100.000. Um aumento populacional significativo, que chegava com novos hábitos, cultura e forma norte-americana de viver. A população do Rio Grande do Norte foi a primeira a experimentar os chicletes, os hambúrgueres, a Coca-Cola, os milk-shakes. Foi construído até mesmo um Teatro ao ar livre, para apresentações de filmes e artistas, como Gary Grant e Ava Gardner, que vieram para o lazer dos soldados. Este também incluía companhia feminina em bares e bordéis: uma verdadeira revolução cultural até mesmo no cemitério municipal, que abrigou soldado norte-americano e três outros britânicos. Mudanças marcantes e estruturantes no povo nordestino.

Ilcea Borba Marquez
Psicóloga e psicanalista
E-mail: ilceaborba@gmail.com

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