O biológico é uma prisão. Quantos já não disseram: sou uma mulher aprisionada num corpo masculino ou sou um homem num corpo feminino
O biológico é uma prisão. Quantos já não disseram: sou uma mulher aprisionada num corpo masculino ou sou um homem num corpo feminino; ou ainda preciso aceitar os limites do meu corpo... a altura, a idade, as habilidades, as fraquezas e até mesmo os dons! No entanto, existe um tempo social onde as limitações podem ser vividas na sua oposição. Um tempo específico, com duração já determinada (inicialmente três dias e agora cinco ou sete) onde o governante é outr o Rei Momo, ele recebe as chaves da cidade e a partir de então suas leis são imperiais. Pela simples aparência, o “Rei Momo” convida aos excessos: comida, bebida, alegria e peso. Suas cores são fortes e contrastantes e sua coroa é de papel dourado. Neste tempo chamado carnavalesco o homem se “tra-veste” em mulher, ou o contrário, o fraco em forte, o subalterno em chefe. Em Uberaba um tradicional bloco de sujos “Banda da Maria Giriza” deve seu nome a uma mãe de arruaceiros, ela também por sua vez dada a excessos, que quando seus filhos eram capturados pela polícia, saía às ruas puxando seus próprios cabelos, gritando, numa encenação de puro desespero, o que lhe trouxe o apelido de “Maria Giriza”. Nada mais apropriad “Bloco da Maria Giriza”, congregando todos que quisessem contestar, ridicularizar, extravasar as emoções que pelo processo educacional deveriam permanecer escondidas, ou se reveladas que fosse de uma forma controlada, comedida. Desde sua criação a “Maria Giriza”, anualmente, desfila pelas ruas centrais da cidade ostentando o avesso; o sujo ao invés do limpo; a feiura ao invés da beleza; o inaceitável ao invés do aceitável. Nela também encontram espaço para exibição aqueles que desejam experimentar outra identidade, um outro corpo, um outro lugar social, uma outra conduta – explodindo em ódio ou em fingida fragilidade amável. Antes de qualquer coisa é importante salientar que este tempo carnavalesco não quer dizer tempo da vulgaridade ou tempo do descompromisso, na verdade trata-se da abertura social para o extravasamento de tudo que ficou contido por ser inatual e/ou inaceitável pessoalmente. Se meu chefe me aterroriza durante todo o ano eu tenho a possibilidade de, nestes três dias, aterrorizá-lo em contrapartida; se meu desejo de um novo corpo ou uma nova idade me é negado, eu posso me tra-vestir de acordo com meu desej pelas leis imperiais do “Rei Momo” tudo é possível! Mas, como foi dito anteriormente, a coroa do Rei é de papel dourado!