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Os jovens pais de adolescentes

Os vários autores que nos falam sobre os adolescentes atuais em suas características e motivações apontam as décadas de 60 e 70 como épocas de rupturas

Ilcéa Borba Marquez
ilcea@terra.com.br
Publicado em 03/08/2018 às 10:18Atualizado em 20/12/2022 às 15:30
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Os vários autores que nos falam sobre os adolescentes atuais em suas características e motivações apontam as décadas de 60 e 70 como épocas de rupturas e reorganizações diferenciadoras que estão na base dos comportamentos contemporâneos, principalmente nos quesitos de violência e uso de drogas.

Os pais dos adolescentes de hoje eram, eles próprios, adolescentes em 70 e vivenciaram, portanto, um embate entre os princípios, a educação e a formação transmitidos por seus pais e os novos e antagônicos valores que a sociedade também passou a veicular como norteadores e desejáveis.

Gilberto Velho publicou sua tese de doutorado – Nobres & Anjos – onde revela que na década de 70 dois grupos de jovens utilizavam tóxicos regularmente. Nas análises destes dois grupos encontrou no primeiro, como força motivadora a estes comportamentos, o desejo de contestação e crítica às suas famílias, mas também a identificação ao modelo familiar contestado gerando então uma situação paradoxal. Ao formarem suas famílias os novos pais esperavam uma retomada aos princípios que receberam dos seus próprios pais, ou seja, havia um projeto de continuidade.

No entanto, o segundo grupo, um pouco mais jovem - entre 10 e 12 anos em 70 - passava pelas mesmas experiências drogaditas, mas ao mesmo tempo repudiava totalmente as leis e valores parentais. Por sua vez, os pais não conseguiam legitimar as novas regras que poderiam ser reconhecidas com "opção existencial lúdico-hedonista". Isto quer dizer: busca desenfreada pela ligeireza e pelo prazer a qualquer preço; a vida está aí para ser aproveitada ao máximo sem preocupação com a consequência ou com o dia seguinte - uma visão e uso da vida como algo a ser absorvido ou engolido que assim deixava de existir no instante seguinte.

A ruptura efetivada por estes jovens em relação ao projeto parental pode ser considerada radical. Esta radicalidade está articulada não apenas à falta de legitimação do projeto destes últimos por parte de suas famílias, mas até mesmo pelo repúdio parental quanto ao mesmo. A nova geração desafiava seus pais a serem totalmente diferentes dos seus próprios pais, ou seja, uma total contradição entre os pais que tiveram e os pais que deveriam vir a ser. No modelo igualitário, democrático, as figuras parentais deveriam ser tolerantes, aceitando as diferenças, respeitando a liberdade! Já conhecemos as consequências deste modelo parental!

(*) psicóloga e psicanalista

ilcea@terra.com.br

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