Ter o importante reconhecimento social no campo das artes é extremamente difícil e poucos conseguem, apesar das facilidades dos dons e do seu aprimoramento hoje em dia. Sua obtenção restringe-se àqueles disciplinados guerreiros que dedicam sua existência e esforços irredutíveis ao objetivo maior do seu viver – a arte na sua plenitude e consequentes aplausos eternos! Ledo engano!
Ter um dom inquestionável não representa segurança de sucesso. Quanta frustação cada vez que o outro não se interessa ou impede sua carreira. Mesmo entre aqueles que conseguem o tão almejado sucesso, sua vida não segue o roteiro das ilusórias fantasias tantas vezes sonhadas em repetitivas rotas meteóricas, plenas de fascínio.
Não precisamos pesquisar muito para encontrar semelhanças nas vidas de artistas brasileiras ou estrangeiras deste tempo e do anterior. Em muitos e importantes aspectos a vida de Carmem Miranda, Elis Regina, Elvis Presley, Marilyn Monroe e Ava Gardner apresentam igualdades surpreendentes. O roteiro poderia ser simplificado assim: o início artístico num grupo religioso ou cidade interiorana, a busca de um centro maior para expansão e alcance de uma plenitude altamente desejada, sucesso ímpar, críticas inesperadas e altamente destrutivas, sucessos pontuais, cobranças inimaginadas, medo, angústia, depressão, busca de soluções mágicas em medicamentos, drogas, álcool, perdas substanciais, destruição de si mesmo.
Carmem Miranda fez grande sucesso artístico no Rio de Janeiro, consagrado pelo Cassino da Urca. Numa época de baixa na indústria do divertimento norte-americano, os caciques saíram em busca de “sangue novo”, quando conheceram Carmem e reconheceram seu potencial. Convite feito e aceito – ela embarcou para este novo desafio. Elis Regina saiu do sul do país para tentar glória no Rio de Janeiro. Em pouco tempo foi notada e convidada para a televisão em São Paulo – O Fino da Bossa, ao lado de Jair Rodrigues. Sucesso imediato, solidificado pelos grandes Festivais da Música Popular Brasileira, onde conseguiu impor-se como grande intérprete.
Em seguida, o tempo das críticas e rejeição do público. Carmem Miranda retornou ao Rio, sendo convidada para um show beneficente da primeira-dama, Alzira Vargas, num tempo de hostilidades antecessoras à guerra. O silêncio da plateia e algumas vaias selaram aquele momento de angustiantes reminiscências. Aqui era falada como americanizada e cômica cinematográfica. Elis foi enterrada pelo Henfil no Pasquim, tornando-se sua pior memória, seguida da vaia monumental num show. Mais uma vez, a interferência da política nas letras e desenhos dos que detêm o poder de comunicar!
(*) Psicóloga e psicanalista
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