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Pergunta que não cala

Fala-se muito em amor neste mês de junho que começa com o Dia dos Namorados

Ilcéa Borba Marquez
ilcea@terra.com.br
Publicado em 22/06/2011 às 19:50Atualizado em 19/12/2022 às 23:43
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Fala-se muito em amor neste mês de junho que começa com o Dia dos Namorados e continua com Santo Antonio – conhecido “Santo Casamenteiro”. Nesta falação nota-se a eterna dúvida, renovada a cada ano, sobre o conceito de amor que englobe: força e fraqueza, limites e possibilidades, perdas e conquistas, como também a temporalidade. Talvez, uma análise dos Crimes Passionais, possa completar nossa compreensão sobre este sentimento.

Na eternizada “Tragédia da Piedade” encontramos todos os requisitos de uma dolorosa tragédia passional: em 10 de janeiro de 1890, casaram-se no Rio de Janeiro o jovem cadete Euclides da Cunha (24 anos) e Anna Emília Ribeiro (17 anos), depois de um breve conhecimento. O nascimento de três crianças, imediatamente nos anos seguintes, estabeleceu as bases de uma família, em acordo com os padrões burgueses da época.

Após o casamento, Euclides deu continuidade à sua vida profissional no Exército até 1896 quando se desligou e dedicou-se às atividades como funcionário de Obras Públicas do Estado de São Paulo em Engenharia; em seguida, repórter do Jornal O Estado de São Paulo – cobrindo a Guerra de Canudos. Seu espírito aventuresco fez com que se candidatasse ao cargo de Chefe da Comissão Brasileira de Reconhecimento, indo então para a Amazônia e, deixando Anna no Rio de Janeiro, com os três filhos.

Anna não era feliz no casamento. Sucessivas desavenças com o marido transtornavam-lhe a vida, agravadas pelas longas separações e as dificuldades financeiras enfrentadas por ela e seus filhos quando Euclides viajando deixava-a sem dinheiro para as despesas comuns de uma família.

Desamparada economicamente e carente de afetos Anna conhece Dilermando de Assis por quem se apaixona. É totalmente correspondida e, logo iniciam romance interrompido por uma carta do silencioso e ausente marido onde dizia: “Estou na baia, a bordo do Tennyson. Mande-me buscar.”

O retorno de Euclides pôs fim à paz em que viviam Anna e Dilermando, e só depois da sua chegada no Rio, Euclides recebeu a carta de Anna onde pedia o divórcio. A negativa do esposo quanto à separação acabou revelando a gravidez de Anna, e, a partir daí ele passou a agredi-la de todas as formas possíveis, humilhando-a na frente dos amigos e empregados. Quando estava calmo, o marido dizia que a perdoava e lhe pedia que não o abandonasse, porém, nos acessos de ira, chamava-a de traidora e transformava seus dias em um verdadeiro inferno. Nesta fase Dilermando fora transferido para Porto Alegre de onde enviava cartas apaixonadas para sua amada. (continua)

(*) psicóloga e psicanalista

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