ARTICULISTAS

PIMENTINHA

Ilcéa Borba Marquez
ilcea@terra.com.br
Publicado em 12/07/2022 às 18:20Atualizado em 18/12/2022 às 20:37
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Quando uma pessoa ganha este apelido – Pimentinha –, sabemos tratar-se de alguém que arde e tem sabor picante. Enquanto alguns buscam este sabor, outros não o toleram. Só não dá para ser indiferente. Assim foi e é Elis Regina, que agora relembram sua vida e morte há quarenta anos.

Lembro-me perfeitamente a primeira vez que assisti, pela televisão, uma apresentação da cantora até então desconhecida para mim. A música era “Menino das Laranjas”, que ela apresentava com movimentos até então inéditos e altamente interessantes com os braços, que sustentaria seu reconhecimento como “Hélice Regina”, batizado feito por Ronaldo Bôscoli. Essa inovação ao se apresentar partiu de sugestão de Lennie Dale, coreógrafo e dançarino que se tornaria um grande amigo e admirador. Vale a pena lembrar que esta era a época do banquinho e violão, voz sussurrante e agradável. Elis marcou sua presença na música, desde o começo, com diferença e personalidade. Assim coloquei-me como irremediavelmente fã de carteirinha. Sempre que ouvia os primeiros acordes da música, corria para a frente da TV, apreciando o show de voz e apresentação.

Acompanhei suas apresentações artísticas e seu sucesso como apresentadora do “Fino da Bossa” ao lado de Jair Rodrigues, lançando as bases do movimento MPB em São Paulo e, gradativamente, no Brasil. Vivíamos uma época áurea de música boa, shows, novos ritmos e espetáculos inesquecíveis. Nessa época, a TV Record lançou os Festivais da Música Popular Brasileira – explosão de criatividade dos compositores e surgimento de artistas que se tornaram sucesso garantido no público universitário e depois estendidos aos jovens adultos.

Elis Regina foi lançada no Beco das Garrafas – Rio de Janeiro – por Miele e Bôscoli, mas logo capturada por São Paulo para o programa “Fino da Bossa”, o que repercutiu negativamente no bom relacionamento dela com Ronaldo, mas muito bem resolvido, pois ele foi seu primeiro marido e pai de João Marcelo. Só mais tarde, o tecladista e arranjador Cesar Camargo Mariano entraria em sua vida, como marido e pai do Pedro e Maria Rita.

Fico pensando nas representações idealizadas que os artistas atualizam no imaginário dos fãs com todas as conotações de unicidade, perfeição e beleza. Como sempre ela gostava de lembrar, foi criada num bairro operário e tinha, no entanto, o dom para o canto. Assim, ela foi chamada para opinar sobre todos os temas importantes e/ou inquietantes vivenciados na oportunidade. Disso decorreram expectativas absurdas e inoportunas consequências das exposições constantes na mídia. Quanto mais seu canto agradava, mais era cobrada pelo jamais pensado e analisado.

Ilcea Borba Marquez

Psicóloga e psicanalista

e-mail: ilceaborba@gmail.com

 

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