Quais os sentimentos vividos por todos os adultos que desejam ardentemente pelo menos um minuto de fama em qualquer telão ao verem a pequena Maisa Silva
Quais os sentimentos vividos por todos os adultos que desejam ardentemente pelo menos um minuto de fama em qualquer telão ao verem a pequena Maisa Silva, de apenas 7 anos de idade recém-completados, num precoce e inquestionável sucesso, tanto no telão de uma emissora de televisão quanto nos vídeos mais visitados do YouTube? Por incrível que pareça, ela consegue a visibilidade tão aclamada e procurada pelos internautas obcecados por fama a qualquer preço, mesmo que por apenas alguns segundos, e, no entanto, ainda na mais perfeita incognitude virtual. Enquanto tantos outros suam por uma visibilidade, mesmo que encenada e formal, uma criança, na sua espontaneidade informal apenas através de seus dotes brutos – no sentido de não polidos por um processo de aprendizagem mais direcionada –, torna-se “menina-prodígio”: sucesso de audiência e faturamento financeiro, tanto para ela quanto para seus pais e, é claro, para o canal que a contratou.
Há pouco tempo, ela frequentava um programa de calouros na condição de menina-cantora e encantava a todos com suas performances na pele de uma Ivete Sangalo ou tantas outras homenageadas pelo programa. Nesta condição, não despertou tanta celeuma, mesmo porque seu sucesso era menor e mais restrito. Atualmente, ela está em plena midiatização, em ampla visibilidade e suas consequências, como a perda do direito à privacidade e ao íntimo/pessoal.
Onde está o certo? No tempo “morto” da infância de antes, quando se determinava o quintal como o “lugar de criança”, que só poderia adentrar o espaço comum da casa onde morava depois de limpa, ao final do dia, para se alimentar e dormir; ou os tempos modernos, que expropriam os próprios pais do espaço comum da casa, para que nele se instale um novo líder poderoso e autoritári sua majestade o bebê? Nossa cantora/apresentadora e celebridade dominical está apenas expondo claramente, para todos nós, o que é a criança dos nossos tempos: uma miniatura de adulto pré-formado, detentor da coroa e do cetro familiar, figura central das rodas de visitas e amizades da família, exprimindo suas conclusões sobre qualquer dos temas em discussã pessoas, profissões, afetos, casamento, Deus e infidelidade... um adorável monstro que, futuramente, irá mostrar suas garras!
(*) Psicóloga e psicanalista