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Predadores sociais

Por ser agressivo e egoísta o homem tem um equipamento psíquico incompatível

Ilcéa Borba Marquez
ilcea@terra.com.br
Publicado em 11/01/2012 às 20:45Atualizado em 17/12/2022 às 07:45
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Por ser agressivo e egoísta o homem tem um equipamento psíquico incompatível para a vida social; mas, como depende do outro para ser verdadeiramente humano na vida adulta e para sobreviver na vida neonatal, ele se torna gregário e experimenta o desafio de estar em sociedade, tendo que às vezes abrir mão do seu próprio prazer e do amor por si mesmo.

Um dos componentes do impulso agressivo é o desejo de dominação na luta pelo poder. Por causa deste desejo o homem se expõe nas competições, rivalizando-se ao adversário e vivendo de acordo com o resultado, sentimentos agradáveis de superioridade ou desagradáveis de inferioridade. Ao mesmo tempo, pela lei da economia libidinosa quanto mais fácil uma luta melhor, ou seja, quanto menor o esforço e gasto energético despendido numa competição, melhor. Assim o impulso agressivo encontra nos fracos (mulheres, crianças, velhos e animais não perigosos) o alcance dos seus objetivos competitivos em acordo com a lei da economia libidinosa exposta acima. O homem apresenta-se agressivo com a mulher, com a criança, com o velho ou com os animais menores, em decorrência desta força interna, às vezes incontrolável no sentido da dominação e também pela fragilidade dos seus opositores que facilitam o desfecho do embate, por mais inacreditável que possa parecer.

Ele também experimenta pelo jogo projetivo e introjetivo as situações opostas do ativo e passivo, tornando-se ao mesmo tempo o agressor e a vítima; o autor e o objeto. Numa psicologia total, roubar e ser roubado é uma coisa só assim como agredir e ser agredido – a identificação projetiva aproxima os distantes pares de opostos da percepção.

No texto “Mal estar na civilização”, de 1930, Freud aponta estas características humanas que o tornam incompatível para a vida em sociedade: pulsão de morte (desejo de matar), princípio do prazer (o direcionamento humano no sentido do prazer e da fuga ao desprazer) e o egoísmo próprio ao amor a si mesmo. No entanto, aponta também neste mesmo texto a capacidade humana de sublimação como a única saída para a humanidade e entrevê que sem ela a barbárie se instalaria. Através da sublimação dos impulsos o homem é capaz de redirecionar sua força interna para objetivos socialmente aceitos e esperados: desde a dedicação ao trabalho produtivo até as atividades de lazer e esportistas – todas permitem ao homem controle e defesa saudável para o impulso agressivo.

(*) Psicóloga e psicanalista

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