ARTICULISTAS

Prisioneiro, amordaçado e engessado

Uberaba já foi cenário de guerras familiares

Ilcéa Borba Marquez
ilcea@terra.com.br
Publicado em 21/08/2013 às 19:36Atualizado em 19/12/2022 às 11:29
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Uberaba já foi cenário de guerras familiares e consequentes expulsões como também fonte de inspiração de obras literárias de desabafo como o livro do jornalista Orlando Ferreira “Terra Madrasta”, onde ele revela seu sentimento de não pertencer a uma pátria/mãe acolhedora e protetora, mas, sim, a uma terra má, ingrata que rejeita e expulsa seus filhos pelo não oferecimento de oportunidade de trabalho, realização pessoal e vida plena. Em 1928, depois de algumas desavenças com os poderes políticos e religiosos em vigor, o autor expôs seus sentimentos de desagrado ao mesmo tempo em que esclarecia os fatores que, de acordo com seu ponto de vista, seriam os entraves ao desenvolvimento harmonioso de Uberaba capaz de aceitar todos os “filhos da terra” em parcerias produtivas e relacionamentos amigáveis. Também propôs mudança na designação especial pela qual a cidade era reconhecida de “Princesa do Sertão”, para “Mucama do Sertão”. A reação foi pontual e severa: todos os livros editados foram confiscados e queimados; ao autor só restou o exílio voluntário em direção a outras paragens.

Não estamos mais em 1928, Uberaba cresceu, diversificou e evoluiu, mas se a evolução urbana é inegável, nosso país vive época de mordaça encarceradora, engessamento improdutivo e fraturas sociais, em plena era de inclusão não-preconceituosa com devida valorização da diversidade produtiva e enriquecedora. A cada dia, leis e novas leis ampliam as já numerosas normas de procedimentos e códigos de direitos e deveres a ponto de resultar numa hiperburocratização com uma insidiosa invasão do Estado no interior de cada casa e lar brasileiro. Reforçando como nunca a contradição, no Brasil atual não há espaço reconhecível para a diferença e o individual; só existem - o geral, o público e o social; a pessoa com seus desejos únicos e diferenciadores altamente identificáveis, evaporou-se!

Em recente discussão sobre violência e adolescentes, refletimos que o jovem de dezesseis anos está à margem da sociedade: não pode trabalhar por causa da pouca idade; não pode ser condenado por causa da idade, mesmo que tenha cometido delito de adulto; só pode estudar, mesmo que não queira ou não tenha afinidade com as atividades restritivas de uma sala de aula! O que ele pensa, quer e projeta para sua vida pessoal futura não desperta interesse nos legisladores. Estes se colocam no lugar daqueles que sempre sabem o que é melhor para ele! Ele está amordaçado, engessado e aprisionado!

O estado brasileiro se agiganta enquanto legislador e não executivo. Para Claudio de Moura Castro com o afundamento do comunismo, descobriu-se que legislar, principalmente sobre o meio ambiente, é uma maneira bastante eficaz de liquidar, de vez, com o capitalismo. Assim o bem comum que deveria nortear a criação legislativa é esquecido e o resultado é a intromissão governamental nos quintais internos de cada casa promovendo a restrição liberal e de liberdades de cada um dos brasileiros!

(*) Psicóloga e psicanalista

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