A depressão é reconhecida como o mal do nosso século. Olhando ao redor, perceberemos várias faces depressivas; seja pelo olhar que não vê, pelo movimento que não se expressa, pelo desejo que não se revela. A depressão pode estar acompanhada da tristeza, mas a apatia, o isolamento afetivo, a impossibilidade de se manter em boas condições de higiene e a baixa autoestima são sinais que nos alertam sobre a necessidade de ajuda.
Outro fator também atual refere-se às queixas depressivas. Ouvimos muitos e repetidamente discursarem sobre suas descrenças e perdas amorosas, sobre suas dores e mal-estares, no que facilmente reconhecemos o sentimento de abandono e a frustração do desejo de amar e ser amado. No entanto, esta explosão poliqueixosa, que faz saltar às alturas o número de pessoas que pensam em se encaixar num possível transtorno do humor, pode na verdade revelar uma característica pulsional do prazer no sofrimento. São aqueles que, através do sofrimento verbalizado, buscam o amor do outro ou de si mesmos. A autoagressão e o sofrimento atuam como sacrifício ritual, como propiciação. Não constituem um fim em si mesmo senão um meio, o qual se crê adequado para conseguir o amor do outro ou ainda aplacar um perseguidor. “Sofrer é uma espécie de contrassenha para o amor.” (Bleichmar) Este codinome “coitado” possui culturalmente o valor de preocupação e carinho, que é comumente confundido com amor; assim fixou-se o fazer-se de coitado como uma demanda de amor. Daí que alguns não aceitam que se acredite que estejam bem e, através da identificação, colocam-se no lugar do outro que contempla a dor a partir de uma perspectiva de amor pelo que sofre.
Na situação distinta da citada, há uma busca pelo sofrimento em si. É quando o sujeito diz a si mesm “viu? Você merece!” O prazer não é o do que sofre, mas sim o do que castiga. Encontra-se o prazer na identificação com o agressor e na posição do sádico.
Iniciamos este artigo falando sobre depressão e, em seguida, focamos o masoquismo e suas condições uma vez que a agressão desempenha importante papel na gênese da depressão enquanto intencionalidade de provocar dano ou sofrimento, seja físico ou moral, pelo prazer que isso implica. O indivíduo pode satisfazer sua intencionalidade agressiva através do sofrimento que alguém experimenta ao se sentir inferior, mal. Quando a agressão está dirigida contra o próprio sujeito, quando, segundo Weiss, este não se ama, mas se odeia através do encadeamento agressão-desvalorização-colapso narcisista, pode cair na depressão.
(*) Psicóloga e psicanalista