Uma compreensão apropriada do homem atual nasce de uma análise desta chamada pós-modernidade
Uma compreensão apropriada do homem atual nasce de uma análise desta chamada pós-modernidade. Retomando a anterioridade social, vemos que vivemos uma era de corte com o fio da tradição duma sociedade hierárquica, bem como da desaparição de pontos fixos de referência que unificavam o social. Assim, o homem sente-se perdido, sem porto de ancoragem, tendo que construir novas respostas, uma vez que as antigas não valem mais.
Da crença no Destino, característica pré-moderna, às certezas e seguranças da Razão, própria à modernidade, à experiência de liberdade e de desilusão com relação às Verdades absolutas que caracterizam a pós-modernidade, trilhou-se um longo percurso de conquistas e desencantos. Neste caminho encontra-se agora o Homem pós-moderno, respirando a atmosfera de um niilismo elevado, no qual princípios morais se esvaneceram; a própria noção de identidade como algo fixo, unificado e estável cai por terra. A certeza de que seria possível transformar o mundo, tendo como centro a Razão e o Desejo (Marx e Freud), cedeu lugar à sensação de inutilidade e de enfraquecimento de sistemas unificados, de instituições rígidas, de ideologias definidas. Perdem-se as dimensões de fundamento, de sentido, de legitimação para tudo o que se diz, o que se faz, o que se é.
Da Poian (2007) enumera oito características do mundo atual que são fontes de transformações do sujeito acompanhadas, no entanto, de muita dor psíquica: 1 – Estamos numa sociedade da informação que circula como mercadoria, originando grandes negócios; 2 – Predomina a pragmática e a força dos acontecimentos presentes e cotidianos que se desenvolvem e se transmitem numa fantástica velocidade; 3 – Impera o relativismo e o individualismo; 4 – A política se transforma em uma gestão de negócios e o respeito pela autoridade é cada vez mais esvaziado; 5 – O Liberalismo e o Socialismo deixam de ser explicações adequadas do mundo e de todos, deixando o Homem órfão de promessas de Modernidade; 6 – Produz-se uma grande “festa de consumo” da qual muitos se sentem excluídos; 7 – Cresce a sensação de insegurança. Esta, sim, partilhada por todos, fazendo com que medos, ansiedade e depressões ganhem força; 8 – Aparecem lutas de etnias locais que tentam resistir à globalização, mas que exacerbam a intolerância.
Diante de tantas mudanças surge um novo sujeit uma sensação de insuficiência, levando a uma grande incidência de depressões, mas também a uma sensação de onipotência, provinda da negação da realidade e gerando indivíduos angustiados ou perversos que tentam escapar do vazio de sentido.
(*) psicóloga e psicanalista