Por identificação, entendemos: “ato ou efeito de identificar(-se); reconhecimento duma coisa ou dum indivíduo como os próprios.” (Novo Dicionário Aurélio), ou, ainda, na visão psicanalítica, “processo psicológico pelo qual um indivíduo assimila um aspecto, uma propriedade, um atributo do outro e se transforma, total ou parcialmente, segundo o modelo dessa pessoa. A personalidade constitui-se e diferencia-se por uma série de identificações.” (Pontalis – Vocabulário de Psicanálise), donde concluímos que os vários grupos se formam e se estruturam estavelmente baseados nos pontos identificatórios ou comuns que existem entre as pessoas. Por esse mecanismo, aproximamo-nos daqueles que reconhecemos como semelhantes ou iguais a nós mesmos, como também afastamo-nos daqueles que reconhecemos como diferentes. Talvez pelo simples medo do estranho ou do estrangeiro a nós – medo da alteridade. Podemos sintetizar que o idêntico a mim atrai na mesma medida em que o estranho repele. Assim, ao longo da vida, vamos criando laços e formando agrupamentos em torno de igualdades e diferenças que estão na base dos grupos assegurando homogeneidade e mesmice.
Porém, existe também no homem a fantasia primitiva de uma unicidade diferenciadora: busca inicial no sentido de ser único e diferente de todos os outros! Ter uma forma própria de ser que separa o indivíduo de tudo aquilo ou aqueles que o antecederam, bem como dos que lhe sucederão! O início deste processo de personificação (tornar-se autorreconhecível como único, portanto diferente de todos os outros) acontece no ambiente familiar, durante os tempos de contato íntimo e profundo entre filhos e pais, com sua consequente formação interna e especular de um EU produto do desejo e sonhos paternos, tornados próprios pelo laço libidinal que envolve o relacionamento entre eles.
No jogo secular entre ser igual e ser diferente, vive o homem ora buscando a homogeneização estatizante e repetitiva, ora se atrevendo às uniões separatistas e excludentes baseadas nas saudáveis diferenças sexuais ou sociais. É bom lembrar que este amadurecimento que permite o agrupamento dos diferentes nem sempre acontece, o que nos leva às experiências de rejeições preconceituosas. Um dos grandes exemplos de rejeição preconceituosa na nossa época é o antissemitismo, com suas graves consequências, tanto para os germânicos quanto para os judeus, como para todos os outros de qualquer nacionalidade ou crença religiosa.
Evidentemente, o caminho para a maturidade e assunção final do EU PRÓPRIO, passa por essas fases, mas objetiva o tornar-se diferente de todos os outros. Inicia com a total rejeição do diferente e termina pela maturidade da aceitação do diferente na sua própria diferença; quer dizer, sem o desejo de transformá-lo numa cópia de si mesmo.
(*) Psicóloga e psicanalista