O século XX já foi considerado por alguns autores como Era de Ditadores – A. Conte “Lês Dictateurs du XXème Siècle
O século XX já foi considerado por alguns autores como Era de Ditadores – A. Conte “Lês Dictateurs du XXème Siècle” enumera nada menos do que 132 ditaduras em 169 países do mundo em 1984. Desde 1918, este século é dominado por uma extensão constante do autoritarismo polític de crises a revoluções e de movimentos revolucionários a reações contrarrevolucionárias. A Europa foi palco de instauração de regimes autoritários entre as duas grandes guerras, ora revolucionários ora reacionários, todos totalitários, sob múltiplas denominações, por quase todos os países, reabilitando a ideia da ditadura em nome de toda sorte de doutrinas e ideologias. A lembrança desses nomes – Mussolini, Franco, Hitler, Stalin, Mao Tse Tung, Perón, Getúlio e Idi Amin Dada – confirma a ideia acima, exposta independente da admiração ou reprovação que a memória coletiva possa manter sobre eles.
Todos criaram uma impressionante mitologia. Marcados pelo destino, cercados de uma “aura” misteriosa, surgiram como novos “salvadores”, movidos por um secreto desejo de divindade, prontos a se lançarem contra a adversidade, a dominar o caos e a salvar os povos.
Para Ian Kershaw, a ditadura de Hitler tem a característica de um paradigma. De forma intensa e extrema, ela significou, entre outras coisas, a reivindicação total do Estado moderno, graus imprevistos de repressão e violência estatal, manipulação sem paralelo anterior dos meios de comunicação para controlar e mobilizar as massas, cinismo sem precedentes nas relações internacionais, os graves perigos do ultranacionalismo, o poder imensamente destrutivo das ideologias de supremacia racial e as consequências últimas do racismo, ao lado da utilização pervertida da tecnologia moderna e da “engenharia social”. Como Hitler foi possível? Como pode um desajustado tão bizarro chegar a tomar o poder na Alemanha, um país moderno, complexo, economicamente desenvolvido e culturalmente avançado?
Para um número crescente de historiadores e sociólogos, os fascismos, comunismos, totalitarismos, corresponderiam, na ordem política, a uma verdadeira explosão de religiões materiais novas, “modernas”, “profanas” e “seculares”. O poder dos ditadores baseia-se em um misterioso ato de fé, em uma “figura” de natureza mítica indecisa e extraordinariamente ambígua, e instala-se nos limites do religioso, do espiritual e do político. Seu poder de fascínio é considerável!